segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Se for pra ganhar assim, prefiro perder

Nada de lágrimas de uma eleitora revoltada. Já estou acostumada a ver meus candidatos serem derrotados nas urnas. Mas estas eleições tiveram um gosto diferente.


Pra começar, Fernando Gabeira perdeu com uma diferença pífia de 55 mil votos - menos do que a lotação do Maracanã.

Ele não partiu para a ignorância e, mesmo sendo acusado o tempo todo por Paes de dar continuidade ao governo de Cesar Maia, que declarou apoio ao verde, não fez questão de lembrar que o peemedebista é cobra criada do Democratas e sem identidade - trocou de partido oito vezes.

E se for pra falar em más parcerias, que tal isso: a eleição de Eduardo Paes abre para Cabral a perspectiva de controle sobre Estado e Município, que juntos gastam R$ 47 bilhões por ano. É uma folha nada desprezível, de dimensão suficiente para abrigar a fatura dos acordos eleitorais, que incluem o PTB de Roberto Jefferson e o PT de Benedita da Silva. Sem comentários sobre os dois...

Cabral vai abandonar governo para ser vice de Dilma

Ainda tem o fato de que Paes, na verdade, não era apoiado por Lula. Ele é tão insignificante para o Governo Federal que demorou para deslanchar a candidatura, provocou briga interna no PMDB e só ganhou amizade do presidente, a quem chamou de ladrão por repetidas vezes, porque o petista-mor é amigo de Cabral e tem interesse de que ele se saia bem no Rio para ser vice de Dilma Rousseff em 2010. Isto é: Sergio Cabral vai abandonar o Governo para participar de campanha presidencial.

Quer dizer: Paes ganhou fazendo politicagem, trocando de partido e indo pro tudo ou nada. Gabeira praticamente empatou sendo sincero e correto.

Ainda tem um detalhe que não abordei por considerar culpa da população.

O digníssimo governador puxou o feriado pelo Dia do Servidor, que seria nesta terça, para hoje. Com isso 927.250 (ou 20,24%) dos eleitores viajaram, deixando para trás o seu dever de cidadão.
Jogada do Cabral? Sem dúvida, mas se essas pessoas se preocupassem com o futuro do Estado teriam votado independente do que o governo decretasse. Sendo assim continuo com a máxima de que cada povo tem o político que merece.

Espero que tenha sido bom para os peemedebistas. Quanto à Gabeira, esse sim saiu vitorioso e, realmente, não merecia essa máquina falida que é a prefeitura. O lugar dele é na Câmara, onde tem maior espaço e utilidade.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

País se afunda em lama por sua ignorância

Não é de hoje que dizem que o povo tem o político que merece. Caso seja verdade, não pertenço, definitivamente, a este mundo.

Vejam como o país se afunda em lama por total ignorância da sociedade, que não se preocupa em verificar o passado dos candidatos que apóiam.

Comecemos pelos municípios do Rio. Em Nova Iguaçu, pela segunda vez, o paraibano Lindberg Farias vai ocupar a prefeitura. Reeleito no primeiro turno. Maravilha! Maravilha? O lindinho aí está sob investigação, acusado pelo Ministério Público de usar a máquina pública para se manter no poder.

Há alguns meses a revista IstoÉ obteve, com exclusividade, fitas gravadas em que assessores e ex-assessores acusam o prefeito de montar um esquema que beneficia empresas que financiaram sua campanha política, paga propinas a funcionários, dá cargos e dinheiro a vereadores em troca de apoio político e conduz licitações viciadas.

Bom, mas isso é intriga da oposição. Afinal, Lindberg foi presidente da União Nacional dos Estudantes - de seriedade duvidosa - e liderou o movimento Fora Collor - também de credibilidade dúbia, mas aí é uma outra discussão.

Então vamos para Caxias. Como Zito é aclamado por aquele povo! Sagrou-se prefeito pela terceira vez! Um Cesar Maia! É, pode ser, mas a comparação não é lá tão exagerada.

Em primeiro de agosto deste ano, o Ministério Público do Rio pediu o indeferimento do registro de Zito. No pedido, a promotoria eleitoral alega que ele é réu em denúncia que tramita no Tribunal de Justiça do Rio por crime previsto na Lei de Licitações. Além disso, ele responde a 11 ações civis por improbidade administrativa.

E o que dizer da vereadora eleita Carminha Jerominho, presa por crime eleitoral? A família dela comanda milícia e promove massacre na zona Oeste do Rio, mas mesmo assim ela ficou em 23º lugar entre os mais votados.

Falta falar ainda sobre a reeleição de Núbia Cozzolino, em Magé, de Jorge Roberto Silveira, em Niterói, a volta de Severino Cavalcanti como prefeito no agreste pernambucano, apoiado por Lula... Mas só com os exemplos citados dá para perceber que o brasileiro está longe de saber votar.

E quanto ao meu candidato? Será que é um santo? Bom, para vereador eu anulo. Para prefeito voto em Gabeira com convicção. As acusações contra ele? Procurem aí, mas não vale chamá-lo de maconheiro. Nem de homossexual. Afinal, ambos estão longe de levar à prisão ou de prejudicar o Estado.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Linha de Passe passou dos limites

Kaique Jesus Santos: Está nele o motivo para assistir a Linha de Passe

Falta coragem para críticos pararem de bajular filmes de diretores badalados

Existem filmes que, indiscutivelmente, só recebem elogios pelo nome de peso na direção. Às vezes o longa não tem, sequer, uma cena marcante, mas, se for desse ou daquele diretor é logo considerado um clássico. É o que acontece com Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas.

O tema mais que batido do cinema nacional trata de uma família pobre, que vive na periferia de São Paulo. Sandra Corveloni, que ganhou, recentemente um Cannes duvidoso, como melhor atriz, é Cleusa, mãe de quatro filhos de pais diferentes, à espera de um quinto.

Disse “Cannes duvidoso” porque a atriz não mostra nada de extraordinário. Sua personagem é comum, pobre, como tantas nesta terra. Precisaria de muito para desbancar atrizes como Angelina Jolie, que concorria por sua atuação no novo longa de Clint Eastwood, e Julianne Moore, protagonista de Ensaio sobre a cegueira, de Fernando Meirelles. Vai entender.

João Baldasserini é Dênis, o mais velho. O jovem trabalha como motoboy, tem um filho, é mulherengo e toma uma decisão bem arriscada para tentar sustentar a família. Vinícius de Oliveira – aquele do também chato Central do Brasil – é Dario, que sonha em ser jogador de futebol e convive com o medo de passar do ponto, já que acabara de completar 18 anos.

O terceiro filho é o evangélico Dinho, interpretado por José Geraldo Rodrigues. O moço tenta bancar o certinho o filme inteiro e protagoniza a cena – única – mais impressionante do filme. O último é o sensacional Kaique Jesus Santos, na pele do divertido Reginaldo. Está nele o motivo para assistir a Linha de Passe até o fim – porque eu já queria sair no meio. O menino é bronco, implicante, engraçado, respondão, autoritário, fofo. Kaique interpretou como gente grande e fez os outros atores medianos simplesmente sumirem.

Gosto é uma coisa engraçada. Acho que sou a primeira a falar mal do novo longa dos “badaladíssimos” Walter Salles e Daniela Thomas. Talvez falte coragem a tantos outros críticos para parar de bajular grandes nomes e olhar com mais carinho a filmes B, que são feitos com muito mais dedicação, mesmo com um orçamento vergonhoso, como Estômago, de Marcos Jorge.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Uma declaração ao Rio

Foto: Claudia Ribeiro
Espetáculo reúne textos que exaltam a Cidade Maravilhosa

Até o dia 5 de outubro os moradores do Rio vão ter a oportunidade de assistir a um espetáculo que declara todo o seu amor à Cidade. Trata-se do musical Ao meu Rio – Declarações de amor: uma exaltação musical, em cartaz no Teatro Municipal Café Pequeno.

Concebida pelo diretor Antrônio De Bonis, um italiano de nascimento e carioca de espírito, como ele mesmo se define, a peça é encenada por três talentosos atores-cantores (Andrea Veiga, Renato Rabelo e Stella Maria Rodrigues), que propõem aos espectadores um mergulho sobre o encantamento carioca feito de marchinhas, samba, maxixe, modinha, seresta, chorinho, pagode, gingado, bossa nova, do sol e do verão, salpicado de belezas femininas... e masculinas.

Enriquecem o repertório clássicos como Ela é carioca, da dupla Tom e Vinícius, Menino do Rio, de Caetano Veloso, O Carioca, de Jair Rodrigues e A Voz do Morro, de Zé Keti.

"A escolha do repertório foi bem complicada. Eu me deparei com um material imenso e nem sabia que tinham escrito tantas coisas legais que falam sobre a cidade", explica De Bonis.

O diretor afirma que a peça não tem nada de crítica. Para ele, os problemas pelos quais a Cidade passa são mostrados todos os dias nos noticiários. A idéia dele é justamente o contrário. A peça se deu por uma vontade de despertar uma paixão no público por uma Cidade tão linda como o Rio.

"Eu caminho todos os dias na praia e sempre fico deslumbrado com a beleza dessa Cidade e fico muito preocupado com a destruição dela. Então, em vez de fazer um musical chamando atenção para os problemas que ela tem, eu preferi fazer um musical sobre as belezas que ela possui", conta.

Como já dizia o maestro Antônio Carlos Brasileiro Jobim, "eu não moro no Rio, eu namoro o Rio". E é justamente este sentimento que Ao meu Rio pretende despertar nas pessoas: o orgulho de ser carioca, mesmo não tendo nascido aqui.

"Cada dia que eu saía do ensaio eu olhava a Cidade diferente e é isso que eu espero causar nas pessoas", conta De Bonis, entusiasmado.

No final do espetáculo, o público poderá ainda emergir de uma viagem para uma Cidade encantada que, se não está todo o tempo à mostra no dia-a-dia, permanece impávida e envolta em mágica no repertório de canções e poemas.

Serviço: Ao meu Rio – Declarações de amor: uma exaltação musical
Local: Teatro Municipal Café Pequeno
Endereço: Av. Ataulfo de Paiva 269 - Leblon
Dias: Até 05 de outubro
Horários: Quintas, Sextas e Sábados, às 21h, e Domingo, às 20h
Preço: Quinta (R$30,00), Sexta, sábado e domingo (R$40,00) - meia entrada para estudantes e idosos.
Duração: 90min
Classificação etária: 18 anos
Horário de funcionamento da bilheteria: Terça a Sábado, das 15 às 21h. Domingo, das 15 às 20h

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Lobão sofre de uma doença muito séria

Cantor tem "inveja corrosiva" incurável

Em entrevista ao Jornal do Brasil, nesta terça, o cantor Lobão declarou que "a bossa nova não passa de uma punheta que se toca de pau mole". Em outro trecho, disse ainda que o estilo musical mais reverenciado no mundo é "uma língua morta, assim como essas bandas de choro e samba, que ficam tocando naquele lugar sujo que é a Lapa".

Mas quem é esse cantor que nunca representou nada na música brasileira para falar de um estilo criado por monstros sagrados como Roberto Menescal, Johnny Alf, Carlos Lyra, Lenny Andrade e companhia? Quem é esse cidadão de voz e comportamento ridículos, metido a revolucionário que faz acústico na MTV, o maior canal jabazeiro de música do mundo? Quem é ele para desmerecer quem cantou a beleza do Rio, do mar, o amor, quem criou a batida mais tocada no mundo e mudou até mesmo o estilo de tocar um violão?

Lobão sofre de algo gravíssimo chamado "inveja corrosiva". Nunca foi lembrado em prêmios, jamais recebeu qualquer tipo de homenagem sequer teve inúmeras músicas regravadas. Como se isso bastasse para ser considerado um bom músico.

Infelizmente muitos artistas de imensurável talento são esquecidos mesmo. O próprio Johnny Alf, um exemplar compositor, pianista e cantor, ponto referencial da Bossa Nova, mais até do que João Gilberto, é pouco conhecido da geração nascida nos anos 60, sequer teve tanta repercussão como o artista de Juazeiro.

Mas quem se interessa pela cultura nacional certamente conhece e reconhece o talento do autor de "Rapaz de bem", "Céu e Mar", "Ilusão A Toa" e "Eu e a Brisa".

Quanto ao desdém pelas bandas que tocam na Lapa, o lugar mais democrático do Rio de Janeiro, onde tribos de todas as classes e credos se encontram sem qualquer tipo de rixa, é de dar pena.

Nunca se viu tantos jovens com sambas de raiz na ponta da língua devido a essas tais bandas de choro e samba que tocam por aí. A quem ele se refere? A bandas como Casuarina, Galocantô, Anjos da Lua e Batuque na Cozinha, que promovem, pelo menos duas vezes por ano, o projeto "Samba em Quatro Tempos", que faz uma viagem pela música desde "Pelo Telefone", de Donga, até os dias de hoje, com casa cheia garantida?

Bandas como Grupo Semente e Samba de Fato, que resgatam clássicos da MPB, como Candeia e Mauro Duarte? E o que ele diria de cinco mil pessoas lotando a Fundição Progresso, numa segunda e numa terça, para a gravação do CD Samba Social Clube, considerada a maior festa do samba dos últimos tempos?

Realmente, ele está certo e cinco mil estão alienados.

Não sei se lamento mais por ele ou por um jornal de tanta respeitabilidade e aceitação como o JB, que dá ibope para um cara como Lobão. Aliás, que apelido mais cafona. Enfim...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Filme: Onde Andará Dulce Veiga

Existem filmes que, embora você ache fantásticos, de cara percebe que não vão colar. E esse, infelizmente, é o caso de Onde Andará Dulce Veiga, do diretor Guilherme de Almeida Prado, feito a partir da adaptação do livro homônimo do jornalista Caio Fernando Abreu.

Eriberto Leão é Caio, um escritor que trabalha na redação de um jornal popular. Ele tem que fazer uma crítica positiva de uma banda chamada "Vaginas Dentadas", mas, pelo nome, percebe que será uma difícil missão.

Ao chegar no ensaio, o jornalista se depara com um som familiar: a vocalista, Márcia Felácio (Carolina Dieckmann) canta uma música de sua maior paixão, Dulce Veiga (Maitê Proença), cantora e atriz desaparecida há 20 anos.

Para sua surpresa, a rebelde moça é filha de Dulce. Caio resolve então escrever uma crônica sobre o paradeiro da artista e ganha de seu chefe a missão de encontrá-la. A partir daí a história toma um rumo à la David Lynch, onde drogas, homossexualismo e algumas pitadas de surrealismo se entrelaçam, como nos filmes do diretor do nonsense "Cidade dos Sonhos".

A linguagem é bem interessante. Ela não é linear e o filme tem bastantes quebras. Uma hora ele está lá na frente e depois volta. E Guilherme repete bem algumas cenas, como um ator tentando encontrar a tonalidade certa para determinado texto. No caso, é a mente de Caio imaginando como o real pode se encaixar em seus contos.

Este, sem dúvida, foi o melhor trabalho de Carolina Dieckmann. A moça ficou nua, cantou, fumou maconha (alface, na verdade) e deu um show de interpretação. Ao contrário de Maitê Proença, que é apenas um rosto bonito nas telas. Eriberto Leão também esteve ótimo na pele de Caio.

A trilha sonora de Hermelino Neder e Newton Carneiro traz o melhor da Bossa Nova. As cores de Adrian Teijido e os efeitos de Marcelo Siqueira são de muito bom gosto.

É uma pena que um filme completo como este não cole por aqui. Ele recebeu muitas críticas no Festival do Rio e já coleciona algumas agora, na sua estréia.

O fato é que não fomos acostumados ao bom cinema, a um trabalho mais alternativo. Somos bombardeados por filmes comerciais, de historinhas fáceis de entender, cheios de efeitos para preencher a falta que faz um texto inteligente, como o de Onde andará Dulce Veiga.

Mas, para quem procura diversificar, garanto uma boa sessão.

Onde Andará Dulce Veiga?
(Brasil / Chile, 135 min, 2007)

Direção, Roteiro e Montagem : Guilherme de Almeida Prado
Produção: Assunção Hernandes
Elenco: Carolina Dieckmann, Eriberto Leão, Maitê Proença, Christiane Torloni, Carmo Della Vechia, Cacá Rosset, Oscar Magrini, Julia Lemmertz, Imara Reis, Matilde Mastrangi, Nuno Leal Maia, Maíra Chasseroux
Fotografia: Adrian Teijido
Som Direto: Sílvio Da-Rin
Produtor Executivo: Fernando Andrade
Produção de Lançamento: Rafael Franco
Diretor de Produção: Farid Tavares
Diretor de Arte: Luís Rossi
Efeitos Especiais: Marcelo Siqueira,
ABC Figurinista: Fábio Namatame
Cenografia: Heron Medeiros
Trilha Sonora: Hermelino Neder e Newton Carneiro
Produção de Elenco: Vivian Golombek e Renata Kalman
Produção: Star / Raiz Distribuição: Califórnia Filmes.

terça-feira, 24 de junho de 2008

O rei da marchinha reúne sua obra em livro

Há 50 anos o compositor, pianista, produtor e apresentador de shows, programas de rádio e televisão João Roberto Kelly começara a traçar uma história de amor ao carnaval, contada agora no recém-lançado “A Obra de João Roberto Kelly – Livro de canções”.

Provavelmente quem pula carnaval sabe de cor sucessos como “Cabeleira do Zezé” e “Maria Sapatão”, mas certamente desconhece o trabalho deste importante artista brasileiro, muito menos que ele tem cerca de 300 composições, muitas feitas com parcerias famosas, como Chacrinha (Bota a Camisinha, Break Break, Maria Sapatão), Chico Anízio (Rancho da Praça Onze), David Nasser (Colombina Yê Yê Yê) e Roberto Faissal (Cabeleira do Zezé).

Artista múltiplo e inúmeras vezes regravado por nomes consagrados, como Elza Soares, Elis Regina, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba e Emilio Santiago, Kelly considera-se um carioca eclético, bem-humorado e espontâneo.

A prova de que ele procura não seguir estilos é o seu envolvimento, por acaso, com o sambalanço, ritmo intermediário entre o samba de gafieira e a Bossa Nova, surgido na metade dos anos 50. Imortalizado na voz de Elza Soares, o sambalanço “Boato” introduziu ambos neste movimento, mas Kelly garante que não o compôs procurando de ser diferente.

E por essas e outras razões vale a pena ler “A Obra de João Roberto Kelly – Livro de canções”, que reúne melodias cifradas para violão, guitarra e teclados, além de depoimentos de diversas personalidades ligadas à música.

Quem assina o prefácio é o pesquisador musical Rodrigo Faour, que declarou que “Kelly soube ser lírico e romântico, seja na sensualidade de Mistura (imortalizada por Cauby Peixoto) ou na delicadeza de cantar um amor que se foi, como em Mormaço (que mereceu vozes poderosas, como as de Ângela Maria e Helena de Lima). Num ambiente de gafieira mais romântica, seu samba-canção Mais do que Amor foi entoado pela poderosa voz tenor de Jamelão”.

O livro, com 55 páginas, (R$ 27,00), está dividido em duas partes. A primeira contém partituras de 18 músicas de carnaval. Na segunda, as canções da MPB, como "Brotinho Bossa-Nova", "Esmola", "Gamação", "Made in Mangueira" (gravada por Miltinho), "Samba do Teléco-téco", "Só Vou de Balanço" e '" My Fair Show" (parceria com Max Nunes e Maurício Sherman), entre outros sucessos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Aquarius vai por água abaixo

Hoje estava preparada para comentar sobre o belo espetáculo que reuniu música clássica com Bossa Nova, no último sábado, em Copacabana. Mas, infelizmente, devido à falta de organização, não consegui chegar ao portão do Forte.

A noite era fria e a chuva, vez ou outra, caía sob centenas de pessoas que aguardavam anciosas, numa enorme fila que se formara fora do Forte de Copacabana. Tudo isso para assistir ao Bossa Nova em Concerto, realizado pelo Projeto Aquarius.

O evento estava marcado para as 20h, e reunia a Orquestra Petrobras Sinfônica, regida por um dos idealizadores do Aquarius, Isaac Karabtchevsky, e músicos conceituados, como Turíbio Santos, Mauro Senise e Leila Pinheiro. Tudo isso para comemorar os 50 anos da Bossa Nova. O cenário não podia ser melhor: Copacabana. Afinal, o bairro era um dos pontos de encontro dos bossa novistas, mais precisamente o apartamento de Nara Leão.

Mas, não sei se por subestimação ou por falta de planejamento, resolveram colocar um show dessa magnitude em um local que, notoriamente, não comportaria as cerca de 15 mil pessoas esperadas.

Às 20h já não passava mais ninguém. A fila chegava na casa dos 500m e, até 20:15h, aproximadamente, ninguém sabia ao certo porque nada andava. Pelo contrário. De lá de fora dava para ver muitas pessoas saindo do evento.

Pensávamos que era por causa da chuva, mas esta era tão fina que valia a pena ficar um pouco molhado para ouvir Leila Pinheiro cantando “Samba do Avião” acompanhada de uma das melhores orquestras do país.

Quando estas pessoas passavam por nós, só dava para escutar “lá em cima está insuportável”, “está muito cheio, não dá pra ficar”. Juntou então a insatisfação de quem não conseguiu entrar e de quem lá dentro estava, mas não conseguia se mover.

Agora a pergunta que não quer calar: por que um evento como este não foi na praia, onde, com certeza, havia mais espaço e, certamente, não haveria confusão? Será que não calcularam que o Campo de Marte não comportaria 15 mil pessoas? Será que subestimaram um público amante de boa música?

A resposta, certamente, não terei, mas espero que o próximo Aquarius não vá por água abaixo...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mais uma festa para a Bossa Nova

Vânia Laranjeira
Projeto Aquarius homenageia o estilo musical mais charmoso do Brasil em sua 36a edição

Certa vez o trompetista Lee Morgan declarou que “a música é a única coisa que atravessa todos os grupos étnicos e todas as línguas”. Mal sabia ele que sua frase traduziria bem a intenção do Projeto Aquarius, que neste ano homenageia a Bossa Nova.

Em 1972, o jornalista Roberto Marinho e o maestro Isaac Karabtchevsky idealizaram um projeto que desse uma roupagem popular à música erudita. Era o nascimento do Projeto Aquarius.

Trinta e seis anos depois, mais de oito milhões de pessoas assistiram a cerca de 300 apresentações ao ar livre, em locais diferentes como Quinta da Boa Vista, Aterro do Flamengo e Enseada de Botafogo. Neste ano será a vez da Praia de Copacabana.

Aproveitando que a Bossa Nova completa 50 anos, o arranjador, compositor, pianista, orquestrador e regente Gilson Peranzzetta foi convidado a fazer arranjos que mostrassem as afinidades entre o estilo com a música clássica nesta edição, que ganhou o nome de “Bossa Nova em Concerto”.

Ao lado de Peranzzetta, com quem está lançando um CD, estará o saxofonista e flautista Mauro Senise, há 20 anos no projeto. Senise tocará alguns sucessos, como “Insensatez”(Tom Jobim e Vinícius de Moraes), “Samba da Minha Terra”(Dorival Caimmy) e “Barquinho” (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli).

Neto do pensador Alceu Amoroso Lima e aluno do clarinetista e arranjador Paulo Moura, Senise coleciona grandes parcerias, como o multiinstrumentista Hermeto Pascoal, o maestro Wagner Tiso e o instrumentista, arranjador e compositor Luis Eça.

Quem também participa do evento é a estreante Leila Pinheiro, que já prestou sua devida homenagem à Bossa Nova, quando esta completou trinta anos, em 89, com um CD onde fez um mergulho nos maiores clássicos deste estilo.

A melhor maneira de inserir a música clássica para todos

Ao lado de Senise e Leila também estarão o violonista Turíbio Santos, marcando sua estréia no Aquarius, e a Orquestra Petrobrás Sinfônica, regida por Isaac Karabtchevsky.

Filho de um dos maiores maestros do Brasil e fundador da Orquestra Petrobras Sinfônica, Armando Prazeres, o ex-aluno – e agora assistente – de Issac, Carlos Prazeres falou sobre o Projeto.

“O Aquarius é um dos maiores responsáveis pela formação de um público erudito porque é a melhor maneira de inserir a música clássica para todos. Isso é algo que não tem precedentes na história do Brasil”.

Até 1997, Prazeres foi o primeiro oboé da Orquestra Sinfônica Petrobras. Em 2005, estreou na posição de seu pai, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e hoje é maestro da Academia Petrobras Sinfônica e da Camerata Santa Teresa, que reúne os principais líderes de cordas do RJ.

Um divisor de águas

Diretor musical da Orquestra Sinfônica Brasileira durante 20 anos e hoje diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Isaac Karabtchevsky contou que o Aquarius nasceu quando compreendeu-se que o povo não tinha alcance da música clássica, pois lhe faltava elemento de contato, de veiculação.

“Colocamos no papel a idéia motriz de levar a música erudita para as multidões e vimos que a melhor forma de se fazer isso era veiculando o projeto na mídia, principalmente na televisão, pois foi graças a ela que o Aquarius adquiriu uma feição própria”, explica.

Realmente, o Aquarius é um divisor de águas. Ele permite que o público tenha um olhar diferenciado sobre a música clássica e compreenda que o estilo pode ser apreciado por todas as gerações.

E isso poderá ser claramente comprovado neste sábado, 21, a partir das 20h, no Campo de Marte, no Forte de Copacabana, com entrada franca.

Veja abaixo a programação e bom espetáculo.

Programa:

1. Locução de um texto de Ruy Castro;
2. Abertura "Aquarius" (Gilson Peranzzetta);
3. Chega de saudade (Tom Jobim/Vinicius de Moraes);
4. Prelúdio nº 4 (Chopin). Solista; Gilson Peranzzetta (piano);
5. Insensatez (Tom Jobim e Vinícius de Moraes). Solista: Mauro Senise (sax);
6. Samba da minha terra (Dorival Caimmy);
7. Nanã (Moacir Santos e Mário Telles). Solista: Mauro Senise (sax);
8. Daphnis et Chloé (Maurice Ravel);
9. Corcovado (Tom Jobim). Solista: Leila Pinheiro;
10. Samba de verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle);
11. Eu sei que vou te amar (Tom Jobim e Vinícius de Moraes). Solista: Mauro Senise (sax);
12. Medley de violão – “Dindi” (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), “Garota de Ipanema”(Tom Jobim e Vinícius de Moraes), “Cadenza do concerto para violão” (Heitor Villa-Lobos). Solista: Turíbio Santos (violão);
13. Concerto para violão - 3º movimeto (Villa-Lobos). Solista: Turíbio Santos (violão);
14. Balanço Zona Sul (Tito Madi);
15. Samba de uma nota só (Tom Jobim e Newton Mendonça). Intérpretes: Gilson Peranzzetta (piano), Mauro Senise (sax), Zeca Assumpção (contrabaixo), Nelson Faria (guitarra), Márcio Bahia (bateria) e Amoy Ribas (percussão) ;
16. Rhapsody in blue (George Gershwin. Solista: Gilson Peranzzetta;
17. Wave (Tom Jobim). Solista: Leila Pinheiro;
18. Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça);
19. Você e eu (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes);
20. La Mer (Claude Debussy);
21. Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Solista: Mauro Senise (flauta);
22. Estamos aí (Maurício Einhorn, Durval Ferreira e Regina Werneck). Solista: Gilson Peranzzetta;
23 Samba do avião (Tom Jobim). Solista: Leila Pinheiro;
24. Ela é carioca (Tom Jobim e Vinícius de Moraes). Solista: Leila Pinheiro.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

CINEMA

Rodrigo Santoro e Alice Braga estréiam em Cinturão Vermelho

Rodrigo Santoro e Alice Braga, os dois atores brasileiros de maior sucesso nos EUA, estão juntos em Cinturão Vermelho.

O drama conta a história do honesto professor de jiu-jitsu Mike Terry (Chiwetel Ejiofor), que é contra competições por achar que elas enfraquecem o homem. Terry é casado com a brasileira Sondra (Alice Braga), que sustenta a modesta academia de seu marido. Cansada disso ela cobra mais atitude dele, se tornando uma grande ambiciosa.

Certa noite Terry salva a vida do astro de cinema Chet Frank (Tim Allen), numa briga de bar, e, como gratidão, o ator o convida para usar suas técnicas de luta em um filme. O problema é que Chet é envolvido com uma grande quadrilha que joga sujo em competições de luta, lideradas pelos irmãos Bruno Silva (Rodrigo Santoro) e Augusto Silva (John Machado), cunhados de Terry. E assim uma sucessão de acontecimentos acaba levando o professor à falência, o obrigando a subir no ringue pela primeira vez.

Porém, na hora H, Terry descobre toda a armação e desiste da luta. Decidido a contar a verdade para o público, ele enfrenta cerca de 10 homens, entre eles lutadores e seguranças, até chegar ao ringue. Como ele é honesto, claro que vence, e até ganha o cinturão vermelho, mas aí já vira um final exagerado demais, no esquema todo-bonzinho-tem-que-vencer, à la Rocky Balboa.

Mas o filme de David Mamet é interessante e capaz de comover. Não é o seu melhor filme, se comparado a Hannibal e O Assalto, mas o roteiro é bem amarrado e flui bem.

Alice Braga se mostra uma grande revelação e Rodrigo Santoro, desta vez, é mais explorado.

ELENCO

Chiwetel Ejiofor ... Mike Terry
Tim Allen ... Chet Frank
Alice Braga ... Sondra Terry
Emily Mortimer ... Laura Black
Joe Mantegna ... Jerry Weiss
Ricky Jay ... Marty Brown
Max Martini ... Officer Joe Collins
Jose Pablo Cantillo ... Snowflake
Rodrigo Santoro ... Bruno Silva
Cyril Takayama ... Jimmy Takata
Randy Couture ... Dylan Flynn
John Machado ... Augusto Silva
David Paymer ... Richie
Rebecca Pidgeon ... Zena Frank
Cathy Cahlin Ryan ... Gini Collins

FICHA TÉCNICA:
Direção e Roteiro - David Mamet
Produtora - Chrisann Verges
Diretor de Arte - Christopher Tandon
Diretor de fotografia - Robert Elswit

segunda-feira, 9 de junho de 2008

TEATRO


Kafka em cartaz no Centro

O Processo, estrelado por Tuca Andrada, fala de problemas em repartições públicas

Um homem com necessidade de mostrar o quão atual é o texto de Franz Kafka. Assim se define José Henrique, diretor de O Processo, em cartaz neste mês, no Centro do Rio.

Escrita em 1914, a obra fala sobre as dificuldades de se resolver algum problema em repartições públicas devido à falta completa de organização. Josef K é um bancário que acorda numa bela manhã e recebe voz de prisão por um crime não revelado. Durante toda a peça ele sofre nas mãos de um sistema altamente burocrático e corrupto, além de abuso de poder. Por se tratar de seu aniversário de 30 anos, inicialmente K. acredita que estão lhe aplicando um trote, de tão absurdo que é.

E assim segue o texto: com acusações absurdas, sem lei ou corte para apontar uma possível culpa em Josef K.

A peça tem duas horas de duração, sem qualquer intervalo. Tuca Andrada, hoje um dos melhores atores teatrais do país, não sai de cena um minuto sequer. Em entrevista ao Culturaetc., o ator fala sobre o ritmo da peça.

Realmente é bastante cansativo pra mim, já que não saio de cena nenhum minuto, mas com os ensaios a gente acaba treinando o fôlego para conseguir chegar até o final do espetáculo. Agora com um pouco mais de um mês de temporada já nem sinto o tempo passar.

Além de Tuca, compõem o elenco Antonio Alves, Gustavo Ottoni, Letícia Guimarães, Paula Valente, Rogério Freitas, Roberto Lobo, Sílvia Monte e Suzana Abranches, que vivem os diversos personagens da história.

Quem conhece Franz Kafka, autor do sucesso A Metamorfose, sabe de sua linguagem rebuscada. E José Henrique, que também assina a adaptação de seu texto, procurou manter essa característica do escritor tcheco. Resultado: uma peça cansativa onde, em algumas cenas, o público é capaz de ficar confuso e não entender o que está sendo dito.

De qualquer forma seu objetivo é bem entendido: mostrar como sofremos em repartições públicas.

Quanto a isso, Tuca comenta que “qualquer pessoa que more nesse país já teve seu dia de Josef K., basta tentar resolver qualquer assunto em uma repartição pública”.

O premiado Hélio Eichbauer assina um cenário composto por oito estantes de aços, móveis e fixas, com caixas de arquivos e processos inspirados no Fórum, que se adaptam a cada mudança de cena.

O Processo fica em cartaz até 27 de julho, no Teatro Maison de France, que fica na Av. Presidente Antônio Carlos, 58, Centro. Os horários são de quinta à sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Os preços variam de R$20,00 a R$50,00.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

TEATRO

Quem assiste não consegue ficar parado

Há exatos 120 anos os negros foram libertos da escravidão. Trazidos para o Brasil em meados do século XVI, eles deixaram importantes marcas na nossa cultura. A capoeira, o candomblé e o samba, por exemplo, foram influenciados por esses grandes guerreiros. E um pouco dessa história é contado no espetáculo Intore, montado pelo grupo Kina Mutembua e Orquestra de Berimbaus, da ONG Ação Comunitária do Brasil/RJ (ACB/RJ).

Intore é um show de dança e música afro-brasileiras que faz a releitura de um trabalho tradicional realizado pelo Ballet Nacional de Ruanda. Ele é dividido em duas partes. Na primeira etapa é exibida uma dança típica de conotação sagrada que era realizada apenas pelos guerreiros africanos escolhidos por atributos físicos e morais. Pra quem não sabe, "Intore" significa "Os Escolhidos".

No segundo tempo um resgate da cultura afro disseminada e miscigenada no país é feito com muita cor e batuque. Logo ganham destaque ritmos regionais como samba de roda, maculelê e jongo, além, é claro, da capoeira, da MPB e músicas em dialeto Banto (africano), que marcam o trabalho do grupo.

Quem está na platéia não consegue se conter. O ritmo é envolvente e os dançarinos não param do início ao fim.

O grupo apreendeu a arte com alguns dos próprios artistas do Ballet Nacional de Ruanda durante intercâmbio proposto pela ONU, em 2006. Essa união fez com que o Kina fosse citado como referência de trabalho na área da economia criativa em recente relatório da ONU, lançado na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), no último dia 20 de abril.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Da Gama apresenta primeiro CD solo na próxima terça

Na próxima terça-feira, dia 20 de maio, Da Gama apresenta seu show Violas e Canções, que vai contar ainda com a participação de George Israel (Kid Abelha) e Biguli (Monobloco e Digital Dubs) na Sala Baden Powell.

Com um repertório que, além de resgatar clássicos do Cidade Negra, passeia por Djavan e resgata mestres da música brasileira, como Hyldon, o show intimista “Violas e Canções” também apresenta composições próprias de Da Gama com parceiros como Marcos Vale em “Ciranda” e Rick Magia em “Amor Proibido”. Há ainda a música de trabalho deste novo projeto, “Amor Matador”, um bolero-canção escrito por Alexandre Lima, do grupo gaúcho Manimao.

O show conta com a banda BaixÁfrica, parceira de longa data do artista, que está tão envolvido com o projeto que já pensa em lançar CD e DVD, mas ainda não revelou nenhum detalhe das gravações, além da participação de Arlindo Cruz em “Ciranda”.

Serviço:

Show Violas e Canções
Data: 20 de maio
Horário: 19h30
Local: Sala Baden Powell
Endereço: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 360 -Copacabana
Preços: R$10 (inteira); R$5 (meia).
Mais informações: 2548-0421
Classificação livre.

CINEMA: MARATONA DO AMOR

Há muito tempo não ria tanto assistindo a uma comédia

Há diretores que realmente não aprendem. Acham que, para arrancarem risos da platéia, precisam adotar aquelas chatas e mais do que cansativas piadas apelativas, sobre loiras e homossexuais, além de explorarem o máximo do máximo o sexo, como o horroroso American Pie.

Porém existem caras, como David Schwimmer, o divertido Ross Geller, do inesquecível Friends, que conseguem proporcionar boas gargalhadas com simples diálogos, coisa que um dos seriados mais assistidos dos últimos tempos fez com maestria.

“Maratona do Amor” (Run, fat boy, run) é um longa gostoso de se ver, que conta a história do atrapalhado Dennis (Simon Pegg), que largou a bela Libby (Thandie Newton) no altar, grávida, por medo de não dar conta da responsabilidade. Alguns anos mais tarde, Libby está namorando o playboy Whit (Hank Azaria) e Dennis, enciumado, resolve reconquistá-la.

Acontece que Whit é maratonista, o que chama a atenção de Libby, e Dennis, um sedentário completo, decide participar da mesma corrida que seu adversário para mostrar que se tornou um homem responsável e pronto para assumir sua família.

Uma história assim pode não chamar muita atenção, mas vale a pena conferir as cenas divertidas do inglês Simon Pegg, que também assina o roteiro. Aliás, as comédias inglesas são bem mais engraçadas do que as americanas e não é de se estranhar que “Maratona do Amor” seja mais uma prova disso.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Cinema

Diretor debate a Operação Condor em documentário

A ação conjunta de repressão a opositores das ditaduras instaladas na América do Sul nos anos 70, conhecida como Operação Condor, é tema do documentário do diretor Roberto Mader.

Condor foi o vencedor dos prêmios de melhor documentário no Festival do Rio e prêmio especial do júri em Gramado, no ano de 2007.

Mader entrevistou tanto pessoas ligadas ao regime militar, como o general Manoel Contreras, braço direito do general Augusto Pinochet, e Jarbas Passarinho (o ex-ministro em três governos militares), como algumas vítimas deste período, como a uruguaia Victoria Larraberti (ela e seu irmão, Anatole, quando pequeno, foram separados de seus pais, que foram seqüestrados e torturados), além de especialistas no assunto, como o escritor e jornalista John Dinges, do livro “Os Anos Condor”.

E o Culturaetc. foi conversar com Mader sobre este importante trabalho.

Culturaetc.: Roberto, de onde partiu a idéia de filmar Condor?

Roberto Mader: A idéia do filme surgiu em 98. Eu morei na Inglaterra e, neste ano, estava lá quando o general Augusto Pinochet foi preso e aí começou uma grande busca por arquivos militares da época da repressão, nos anos 70. Por isso a palavra “Condor”, que estava esquecida ou não era conhecida, começou a aparecer e eu percebi que essa operação iria dar um trabalho interessante.

Culturaetc.: E como foi feito o documentário?

Roberto Mader: O documentário foi dividido em três partes. Uma é a contextualização da América do Sul naquela época. Outra explica mais o que era a Operação Condor, apesar de não me prender tanto a isso, como data e fatos, e a terceira é a parte mais forte do documentário, pois fala das conseqüências humanas e psicológicas daquele período.

A operação durou até o período de redemocratização da região, na década seguinte. Liderada por militares da América Latina, a operaçãofoi batizada com o nome do Condor, ave típica dos Andes e símbolo da astúcia na caça às suas presas.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

“O homem que não tem raiz não tem nada”

Moyseis Marques mostra suas influências em seu primeiro CD

“Prefiro ouvir um verso de samba a escutar som de tiro”. É com este belo refrão de desabafo, escrito por Paulo Cesar Pinheiro, que Moyseis Marques apresenta seu primeiro CD, que leva seu nome e é repleto de gafieira, samba e até forró.

Criado na Zona Norte do Rio, no bairro de Vila da Penha, o cantor e compositor não vem de família de artistas muito menos recebeu incentivo para viver de música, mas foi à luta e hoje é um dos mais importantes nomes da nova geração do samba.

Lançado no final de 2007, o CD Moyseis Marques retrata um pouco sua trajetória. Apesar de, aos 30 anos, estar lançando o seu primeiro álbum, Moyséis tem pelo menos dez anos de estrada, com passagens por grupos como Casuarina, Tempero Carioca e Forró na Contramão.

Trata-se de um álbum gostoso de se ouvir, daqueles que você pode repetir sem enjoar. Moyseis resgata o velho e o novo da MPB, como “Meus 14 Anos”, de Paulinho da Viola, composições novas, como “Palpite de Gafieira”, de sua autoria ao lado de Daniel Scisinio e Rodolpho Dutra, além de partido alto de primeira, como “Mocotó do Tião - Fidelidade Partidária”, da dupla Wilson Moreira e Nei Lopes e com participação de Marquinhos China.

Fora as participações especialíssimas de Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda, Elton Medeiros, Zé da Velha, Silvério Pontes, que dão uma idéia da qualidade do álbum. Dá pra ver que não se trata de um trabalho de iniciante.

Muito solícito, Moyseis conversou com o Culturaetc. sobre seu início de carreira, o repertório escolhido para este álbum e suas parcerias.

Culturaetc.: Conta como você se voltou para a música e decidiu viver dela.

Moyseis Marques: Eu tive minhas manifestações musicais desde cedo, como no colégio, onde tocava flauta doce. Tinha também o coral da igreja católica, que foi a primeira coisa que me chamou a atenção e foi onde comecei a cantar e tive o meu primeiro violão. Então eu sempre gostei de música. Eu costumava imitar os cantores de rádio e os discos do Roberto Carlos.

Culturaetc.: Mas quando você se voltou mais para o samba?

Moyseis Marques: Quando fiz 18 anos saí da casa dos meus pais e vim morar na Zona Sul. Aí eu ampliei meu círculo de amizade, tive um contato mais aprofundado com a música e comecei a receber incentivo das pessoas, dos amigos para investir nisso. Então lá para os 19, 20 anos eu resolvi que queria viver disso mesmo. E aí comecei a meter as caras.

Culturaetc.: Você lançou seu primeiro CD repleto de samba, partido alto, gafieira e até forró... Fala um pouco sobre este trabalho.

Moyseis Marques: Esse é o primeiro CD meu. Eu já tive passagem por algumas bandas e esse disco representa um pouco as várias formações musicais que eu tive. E é um disco voltado para o samba porque depois que eu passei a morar na Lapa esse estilo ficou muito presente na minha vida.

Culturaetc.: E você se apresenta também como compositor e mostra um pouco suas influências, não é isso?

Moyseis Marques: Sim. Eu me apresento como cantor e compositor e como intérprete de canções inéditas e quase inéditas, além de ter um pouquinho das minhas influências. Aí tem aquelas pitadinhas de forró, daquele repertório de Jackson do Pandeiro, que eu tanto gosto e que foi uma figura que eu me aprofundei na obra. Então é um disco de apresentação. Ele retrata um pouco esse meu caminho.

Culturaetc.: E como foi a escolha desse repertório?

Moyseis Marques: Bom, “Minha Verdade” é uma música que representou uma época da minha vida, quando eu conheci a obra da Dona Ivone Lara e comecei a cantar suas músicas. “Quatorze anos” é uma música que eu gostaria de ter feito, porque representa aquela coisa de proteção dos pais e é lá do começo da carreira do Paulinho (da Viola), então tem poucas gravações. “Nomes de Favela”, que é a música de trabalho, é um samba quase inédito. Então eu busquei esse repertório que me tocasse, que soasse verdadeiro.

Culturaetc.: O CD tem também participações especiais, como a de um dos maiores versadores do país, o Marquinhos China, tem Elton Medeiros, Zé da Velha, Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda... Fala um pouco sobre essas participações.

Moyseis Marques: São pessoas que tem a ver com a minha carreira. O Paulão é tipo um pai, sempre esteve presente, o Marquinhos China foi uma pessoa que eu aprendi muito no Tempero Carioca, o Elton Medeiros foi um presente que o Paulo Figueiredo (produtor) trouxe, o Zé da Velha e o Silvério Pontes são pessoas que eu trabalho, que sempre me convidam para fazer bailes, tem também o Zé Paulo Becker, o Nicolas Krassik... É uma forma de retribuir e passar um pouquinho da minha história com eles. Enfim, é um disco que tem muito suor, muita paciência, muita amizade, muito sentimento.

E põe sentimento nisso! Quem conhece Moyseis Marques sente que o cantor está contando sua história neste belo trabalho, ao mesmo tempo em que ele resgata o samba de raiz, a boa e velha gafieira, o forró, o partido alto, o samba-canção e até o candomblé, com mais toques de modernismo do que de saudosismo.

Quem quiser conferir o trabalho do cantor, ele faz duas rodas de samba semanais, uma no Carioca da Gema, às quartas, 21:30h, e outra no Trapiche Gamboa, às quintas, às 21h. E tem também um site com mais informações, que é o http://www.moyseismarques.com.br/.


domingo, 11 de maio de 2008

Crítica: Bella

Estava faltando um filme como este nos cinemas

Em muitas culturas acredita-se que, ao morrermos, nossa alma se desgarra de nós em forma de borboleta para um novo renascimento. Em grego antigo, Borboleta diz-se Psyché, ou seja, alma. Por sair do casulo ao nascer, a borboleta é símbolo da imortalidade e seu surgimento anuncia a morte e a vida.

Baseado nesse simbolismo o diretor Alejandro Gomez Monteverde nos apresenta o maravilhoso “Bella”, seu primeiro longa-metragem, que fala sobre o amor pela família, pelas coisas mais simples da vida, da verdadeira amizade, além de discutir a vida e a morte.
"Bella" é uma produção independente, rodada em Nova Iorque e tem no seu elenco atores americanos e mexicanos.

Nina (Tammy Blanchard) é demitida do restaurante mexicano de Manny (Manny Perez) e, para completar, está grávida. José (Eduardo Verástegui) é um ex-jogador de futebol de sucesso e chef principal do estabelecimento, que pertence a seu irmão. O moço sente compaixão pela garçonete e larga o trabalho para fazer companhia a ela naquele dia tão difícil.

Pelas ruas de Nova Iorque, Nina fala sobre a importância de se criar uma criança em um lar rodeado de amor, o que não aconteceria ao seu bebê, pois ela sequer ama o pai da criança.

Sempre ouvindo atentamente o que a moça diz, José tenta convencê-la a dar a volta por cima, vencer seus medos e dar valor à vida, não só a dela como a que está carregando, mas Nina já está decidida a interromper a gravidez.

José decide então levá-la para a casa de seus pais e conta que, no auge da carreira de jogador, atropela uma criança, tirando sua vida. Ele fica quatro anos na prisão e, ao sair, nunca mais entrou em campo. E foi seu irmão adotado, Manny, que lhe deu a chance de trabalhar em seu restaurante.

Só aí que Nina, que perdera o pai aos 12 anos e conviveu com uma mãe que desistira de viver, entendeu como as pessoas podem superar as adversidades quando se tem carinho e toma uma decisão surpreendente.

“Bella” não tem atores famosos nem é repleto de efeitos especiais, mas é um dos filmes mais bonitos e emocionantes dos últimos tempos, pois conquista justamente com a sua simplicidade.

A impressão que dá é que Monteverde, que também assina o roteiro, pede para Blanchard e Verástegui saírem pelas ruas conversando sobre a vida, de tão espontâneos que são os diálogos. Fora a bela fotografia de Andrew Cadelago e o sutil simbolismo que Joseph Gutowski e Fernando Villena, que assinam a montagem, dão ao renascimento.

Vencedor do Prêmio do Público do Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, Bella está com estréia prevista para 16 de maio.
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Ficha técnica
Título original: Bella
México / EUA, 2006,
91 minutos
Gênero: Drama
Direção: Alejandro Gomez Monteverde
Roteiro: Alejandro Gomez Monteverde, Patrick Million e Leo Severino
Direção de fotografia: Andrew Cadelago
Montagem: Joseph Gutowski e Fernando Villena
Música original: Stephan Altman
Distribuição nacional: California Filmes
Elenco
Eduardo Verástegui - José
Tammy Blanchard - Nina
Manny Perez - Manny
Ali Landry - Celia
Angélica Aragón - Mother
Jaime Tirelli - Father
Ramon Rodriguez - Eduardo
Destaques
Melhor filme pelo júri popular no Festival de Toronto 2006 - Prêmio Crystal Heart no Festival de Heartland 2007 - Prêmio de Atuação Inspiradora no MovieGuide 2008

terça-feira, 6 de maio de 2008

EXPOSIÇÃO


Artista plástico transforma lixo em arte
Não jogue fora todo o seu lixo – doe-o para Sergio Cezar, artista plástico que transforma sucata em esculturas, retratando poeticamente a vida em comunidades pobres, fazendo a ponte entre a favela e a arte.

Para quem não o conhece, sua obra mais famosa pode ser vista todos os dias, na abertura da novela “Duas Caras”, da Rede Globo e, agora, esse e outros trabalhos encontram-se na exposição “Reciclando o Olhar”, no Centro do Rio.

Ainda muito jovem, Sergio percebeu a distância entre as manifestações artísticas e as pessoas de classe baixa e teve a sensibilidade de enxergar que o dia-a-dia dessa gente pode ser contado em uma simples e bela maquete. Como? Juntando entulhos e construindo, com uma riqueza de detalhes, casas, vilarejos, cidades, assim como cresce uma favela.

Embora não haja personagens, as esculturas são tão vivas e coloridas que pode-se escutar crianças brincando, vizinhos conversando, lavadeiras cantando. É a vida simples retratada com uma originalidade ímpar, do jeitinho brasileiro.

Negro de família humilde, o filho de porteiro e empregada doméstica trabalha, há 25 anos, com meio ambiente e inclusão social. Em 1998, criou a ONG Recuperar-te, onde dá cursos de artesanato para crianças e jovens de comunidades.

As obras do arquiteto do papelão, como é conhecido, estão no Centro Cultural da Justiça Federal, na exposição “Reciclando o Olhar”, que ficará no espaço de 6 de maio a 8 de junho. O horário de visitação é de terça à sábado, das 12h às 19h, com entrada franca.

Lembrando que o CCJF fica na Av. Rio Branco, 241, Cinelândia.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

OPINIÃO

Cultura e política de mãos dadas

O coleguinha Carlos Calado informou em sua coluna, hoje, no Ilustrada, que Stevie Wonder aproveitou sua participação em um grande festival para apoiar o candidato Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.

O show era o 39.º Festival de Jazz de Nova Orleans e 70 mil pessoas, embaixo de chuva forte, ouviram o cantor dizer estar entusiasmado com o pré-candidato do partido Democrata.

Após a declaração, Wonder ainda pediu que se fizesse um minuto de silêncio em memória às vítimas do furacão Katrina, que destruiu parte da cidade, em 2005, deixando um rastro de mortes e desabrigados.

É comum um ato como esses lá fora. Artistas costumam aproveitar seus shows e participações em programas de entrevistas para fazer campanha, falar sobre alguma tragédia, tentar conscientizar seu público. É a cultura andando junto com a política. Afinal, o que é a política senão a arte de discutir idéias? E o que é a arte senão tentar tornar as pessoas mais informadas e politizadas?

O que lamento é uma atitude como essa ser rara em nosso país. Os “artistas da ditadura” se calaram – ou se cansaram – e a nova geração mal se lembra em quem votou nas últimas eleições. Não aproveitam um importante instrumento de mobilização - o microfone - para discutir idéias.

Parabéns a Stevie Wonder, um dos mais respeitados cantores e compositores do mundo, ativista de causas humanitárias e deficiente visual.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O poeta não morreu

Paulo Ricardo, Caetano Veloso e Ney Matogrosso
Cazuza é homenageado no dia do trabalhador

No ano em que completaria 50 anos, Cazuza é homenageado por artistas de sua geração e da nova em um show promovido nas areias de Copacabana, na noite fria de 1 de maio, dia do trabalhador.

Homem de muitas palavras e poucos modos, Agenor de Miranda Araújo Neto ainda influencia muitas bandas e suas letras são cantadas por quem ainda nem era nascido quando o rebelde vocalista do Barão Vermelho nos deixou, em 7 de julho de 1990.

Considerado um dos mais importantes poetas da música brasileira, o homem que queria uma ideologia para viver foi homenageado por grandes amigos e parceiros, como Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Rodrigo Santos e outros.

Antes de Ney Matogrosso subir no palco para cantar “O tempo não pára”, “Por que a gente é assim” e “Pro dia nascer feliz”, um grande telão exibia imagens da Sociedade Viva Cazuza, fundada por seus pais após sua morte para dar assistência a crianças carentes portadoras do vírus da Aids.

Um dos grandes poetas da MPB

Primeiro cantor a regravar suas letras, Ney foi aclamado por um público de aproximadamente 60 mil pessoas.

Após sua bela interpretação, novamente as atenções se voltaram para o telão, que exibiu cenas do filme “Cazuza”, lançado em 2004. Também foi exibido “O poeta está vivo”, interpretado por Barão Vermelho, no DVD “MTV Ao Vivo”, lançado em 2005.

Leoni subiu ao palco em seguida para tocar “Minha louca vida” e “Mal nenhum”. Após o show, ele falou um pouco sobre Cazuza e sua canção predileta.

“Cazuza foi um dos grandes poetas da Música Popular Brasileira e deixou uma obra muito importante. Ele era meu amigo, meu parceiro e estou muito emocionado de estar aqui”.

Grande influência


O cantor acredita que Cazuza ainda hoje influencia muitos letristas e poetas porque ele tinha uma abordagem da vida muito sincera.

“Ele não tinha medo de colocar a cara a tapa, tanto que depois dele perdeu-se isso. Os artistas procuraram ficar politicamente corretos, ninguém podia falar mal de ninguém, tinha que falar o que a mídia esperava. A gente perdeu essa capacidade de ser livre pra falar o que a gente quer e ele inspira muito isso, na atitude. E ele faz muita falta, só não faz mais falta porque ele deixou toda essa obra que a gente pode revisitar na hora que der saudade”, completa.

Os dois são donos de belas canções, como “Garotos” e “Exagerado”, mas Leoni aponta a sua preferida.

“Tem uma música que me emociona muito que é “Ideologia”, porque as grandes idéias acabaram, as ideologias acabaram. Vivemos num mundo individualista, onde você tem que procurar se dar bem, ganhar dinheiro, se adaptar às idéias e o Cazuza tinha essa coisa de querer uma ideologia, de querer acreditar em alguma coisa, que o homem pode ser solidário, libertário e essa música é uma síntese desse pensamento”.

Exagerado

Quem também estava muito emocionado era Paulo Ricardo, ex-líder da banda RPM. O cantor foi um dos últimos a subir no palco e interpretou “Ponto Fraco”, “Ideologia” e “Exagerado”, ao lado de Leoni e Preta Gil.

“Se eu tivesse que definir o Cazuza em uma palavra ela seria “exagerado”. Ele sabia fazer com que as pessoas se identificassem com o que ele estava falando porque ele era muito verdadeiro. À medida que ele se abria ele criava coragem nas outras pessoas para elas fazerem o mesmo”, comenta.

Paulo Ricardo garante que Cazuza era fiel ao que dizia. Suas atitudes convinham com suas canções, que retratavam seu modo de agir, seu pensar.

“Cazuza foi um avatar, um pioneiro da nossa geração e era um cara que realmente fazia tudo aquilo que ele cantava. Ele virava a noite na loucura com muita intensidade e, mesmo na fase terminal, continuava com a mesma postura, sem nenhum traço de arrependimento ou falso moralismo”.

Sobre um possível Cazuza de hoje, Paulo Ricardo garante que ninguém relevante, nem na música, nem na literatura consiga transmitir o que ele foi.

“Eu não vejo aquela língua afiada dele em ninguém”, afirma.

O lado MPB

E se Cazuza estivesse vivo? Será que ele continuaria rock’n’roll? A verdade é que, em suas últimas canções, Cazuza estava muito mais inclinado para a Bossa Nova e a MPB do que para o rock. Já em carreira solo – o cantor se separou do Barão em 1985 – seu som estava mais limpo e apresentava traços de um Cazuza mais light, como em “Codinome Beija-flor” e “Faz parte do meu show”.

“Eu sentia que o Cazuza estava se voltando cada vez mais para a MPB. Eu acho que ele não ia se identificar muito com o rock de hoje”, comenta Paulo Ricardo.

O fato é que Cazuza ultrapassou gerações e a prova disso foi o encontro de diferentes idades neste show que homenageou o trabalhador das palavras.

Participaram da festa Ney Matogrosso, Leoni, Sandra de Sá, Preta Gil, Zélia Duncan, Arnaldo Brandão, George Israel, Angela Ro Ro, Rodrigo Santos, Caetano Veloso, Gabriel, O Pensador, Liah e Gabriel Tomás.

Samba é homenageado com grande estilo

Batuque na Cozinha
Bandas contam um século de samba na Lapa

Um século de samba é contado no show “Samba em quatro tempos”, realizado pelas bandas Casuarina, Anjos da Lua, Batuque na Cozinha e Galocantô, no último dia 30, na Fundição Progresso, Lapa – RJ.

Os grupos deram uma aula desde o primeiro samba registrado, “Pelo Telefone”, de Donga, datado de 1917, até os mais atuais, de Zeca Pagodinho e Beth Carvalho.

O Casuarina abriu a noite com sambas de Ary Barroso, Donga e Assis Valente. O grupo empolgou ao tocar “Palpite Infeliz”, de Noel Rosa, “Minha Filosofia”, de Aluisio Machado e sucesso de seu primeiro álbum, e “Sem Compromisso”, de Chico Buarque. Ao passar a bola para a segunda banda da noite, o Casuarina fechou com estilo, tocando “Canto de Ossanha”, de Vinicius de Moraes.

O vocalista Gabriel Azevedo explicou que o projeto, nascido há três anos, surgiu da necessidade de juntar quatro bandas muito amigas e abarcar todo esse repertório.

“Apesar de serem quatro bandas de samba, a gente tem o perfil diferente. O Anjos da Lua investe bastante no trabalho de pesquisa e o Casuarina também caminha para esse lado de resgate. Já os outros se dedicam a sambas da década de 70 pra cá”, explica Gabriel.

Numa apresentação menos empolgante, o Anjos da Lua interpretou sucessos de Zeca Pagodinho, como “Beija-me”, Orlando Silva, com “Chora Cavaquinho”, João Nogueira, com “Mineira”, e Zé Keti, com “Diz que fui por aí”.

Terceira a se apresentar na noite, a banda Batuque na Cozinha não deixou ninguém ficar parado ao tocar sucessos como “Na linha do Mar”, de Paulinho da Viola, “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque e “Espelho”, de João Nogueira. Este, inclusive, foi talvez o ponto mais alto do show.

O percussionista André Corrêa explicou que, a princípio, sua banda se uniu ao Galocantô e aí eles convidaram o Casuarina e o Anjos da Lua para fazerem um século de samba, desde o primeiro registrado até os dias de hoje.

A banda fechou com chave de ouro cantando “Acreditar”, de Ivone Lara.

Último na noite a subir no palco, o Galocantô interpretou sambas mais recentes, quando este estilo já ia para o lado do pagode.

O vocalista Rodrigo Carvalho comentou que os grupos já pensaram em gravar um CD, desde quando começaram esse projeto, mas conta que é muito difícil reunir os quatro em torno de um trabalho.

“Cada um está com seu CD e fica difícil conciliar a agenda”, comenta.

O Galocantô, inclusive, lançou um show inspirado no livro “No princípio era a roda”, do jornalista Roberto Moura. Rodrigo explica que a obra é o víeis do “Samba em quatro tempos”.

“Ele era um grande conhecedor de samba, estava em todas as rodas e merece essa homenagem”, comenta Rodrigo.

O Samba em Quatro Tempos começou em 2006, no Circo Voador, também na Lapa. Os grupos procuravam conciliar os shows nas férias escolares, sempre às terças. Depois o projeto migrou para a Fundição e cada banda lançou seu CD, o que dificultou sua continuidade. Com sua volta, as bandas pretendem agora fazer essa bela roda de samba ao menos uma vez por ano.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A música não tem tempo nem época

Dori Caymmi e Joyce apresentam Rio-Bahia com grande estilo

São muitos os que pensam que o filho do grande Dorival Caymmi é baiano. Mas o fato é que um dos mais importantes compositores e arranjadores da Música Brasileira é carioca, porém criado na Bahia desde cedo.

Já a cantora Joyce é nascida e criada em Copacabana. Quando ingressou na música seu primeiro arranjador foi nada mais nada menos que Dori Caymmi.

Quarenta anos se passaram e os dois resolveram lançar, no Rio de Janeiro, o CD Rio-Bahia, com novas e velhas composições da dupla, como Saudade do Rio (Dori Caymmi / Paulo César Pinheiro) e Saudade da Bahia (clássico de Dorival Caymmi), e novas parcerias, como a de Joyce e Carlos Lyra, em Era Copacabana, e Dori e Chico Buarque, em Fora de Hora.

Produzido em 2005 para as gravadoras Far Out, de Londres, e JVC, de Tóquio, o CD foi gravado nos estúdios Mosh, em São Paulo. Mas só agora a dupla apresenta este belo trabalho, repleto de Samba e Bossa, que ainda conta com a participação do consagrado jazzista americano Kenny Werner, no piano, além do baixo de Rodolfo Stroeter, da bateria de Tutty Moreno, dos sopros de Proveta e Teco Cardoso, que juntamente com o percussionista Ronaldo Silva, forma a base instrumental do álbum.

Com um jeitão simples e sorridente, Dori Caymmi elogia muito o CD e sua parceira.

“Quando eu era menino o meu apelido era baiano e por isso a Joyce resolveu colocar Rio-Bahia”, explica.

O cantor confessa que é bom trabalhar com a Joyce. Para o irmão de Nana e Danilo Caymmi, a cantora seria uma quarta irmã.

“Somos irmãos de músicas, de pais da música, temos as mesmas influências, a gente veio das mesmas rodas e isso é muito importante”, completa.

Um pouco mais tímida, Joyce também se rasga de elogios a Dori.

“É uma delícia trabalhar com o Dori. Ele é meu ídolo. Ele foi o meu primeiro arranjador e o primeiro a gente nunca esquece (risos)”.

Dori e Joyce vieram de uma época farta de bons músicos, como Roberto Menescal, Edu Lobo, Ronaldo Bôscoli e tantos outros. Mas os tempos são outros e, mesmo assim, continuam fazendo o que sabem de melhor: boas músicas.

Sobre o cenário musical de hoje, Dori não hesita em dizer que a velocidade e o mau gosto andam juntos.

“Hoje o mau gosto chega muito mais rápido do que naquela época. Antigamente as pessoas eram mais fáceis de lidar, elas não tinham tanta pressa. E era lindo morar no Rio de Janeiro. Hoje acabou-se um pouco o romantismo. Eu gosto é dessa arte do encontro com pessoas que a gente se entende, como a Joyce. Aí é muito bom”.

Já Joyce acredita que a época é a mesma.

“Estão todos aí. A música está muito viva, mesmo das pessoas que já foram, como o Tom. A música não tem tempo nem época. Quando ela é boa, seja qual for o gênero, ela é eterna”, filosofa.

Mas Dori acrescenta que o trabalho de toda essa safra não foi em vão. Ele comemora o fato de ainda existirem jovens interessados em ouvir MPB, ouvir Bossa.

Já Joyce lembra que a década de 60, no auge da Bossa Nova, grandes compositores passaram por dificuldades.

“Somos como a maré. Em um momento estamos lá em cima e, de repente, a maré baixa. Eu acho que temos que ver esta coisa com muita filosofia e trabalhar pela beleza da música para que ela sobreviva por muitos anos”.

Para a cantora o problema do Brasil é estrutural. Não há nenhuma educação musical e isso faz com que as pessoas percam a sensibilidade, a compreensão por uma música mais elaborada. Mas ainda há uma esperança.

“Eu acho que tem toda uma geração de filhos de pessoas da nossa época que estão fazendo um trabalho bonito e podem levar adiante nossa música porque tiveram exposição a ela durante toda a vida, como nós fomos”.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O popular e o erudito na mais fina harmonia

Wagner Tiso, Beth carvalho, Carlos Prazeres e Diogo Nogueira
Noel Rosa ganha roupagem clássica e surpreende seus fãs em noite emocionante

Alguém já disse que “a música é a única coisa que atravessa todos os grupos étnicos e todas as línguas”. A Orquestra Petrobrás Sinfônica traduziu muito bem a frase do trompetista Lee Morgan na noite de ontem, no Canecão – RJ, ao homenagear Noel Rosa, junto com Diogo Nogueira e Beth Carvalho.

No primeiro momento o público pode estranhar o fato de a música popular ser orquestrada, ainda mais em um país não muito acostumado com o erudito. Mas, se estudarmos com carinho o nosso passado, lembraremos que um dos maiores maestros da história da música, Villa-Lobos, fez isso melhor que ninguém.

Noel Rosa, se vivo, faria 98 anos no mês de maio. Responsável pela união do samba do morro com o do asfalto, o poeta da Vila nos deixou cedo, em 1937, com apenas 26 anos de idade, vítima de tuberculose.

Para lembrar seu centenário, os maestros Wagner Tiso e Carlos Prazeres fizeram uma seleção de seus mais conhecidos sambas, como “Gago Apaixonado” e “Último Desejo”, e convidou Beth Carvalho e Diogo Nogueira para interpretá-los, em grande estilo, com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, dentro do Projeto MPB&Jazz.

Em sua quinta edição, o MPB&Jazz começou dentro da Orquestra como uma programação extra de música popular. A empresária e produtora Giselle Goldoni Tiso convidou Túlio Feliciano para a direção e roteiro e o maestro Wagner Tiso para a regência.

Antes do show, que aconteceu no dia de São Jorge, o devoto do Santo, trajado com camisa vermelha com a estampa do dragão e all-star azul, Tiso falou, com muito orgulho, do projeto que mistura, há cinco anos, música popular e erudita.

“O maestro Carlos Prezeres está comigo desde o início e a gente fazia um movimento de música popular com a Orquestra Sinfônica dentro de um grupo de convidados, tanto solistas como intérpretes. Mas há dois anos estamos fazendo a série em conceitos”.

Entre os homenageados do projeto estão Pixinguinha e João Bosco. E Tiso falou sobre como é feita esta seleção.

“Ano passado a gente fez Cem Anos de Frevo. Depois fizemos uma homenagem à obra de Edu Lobo e este ano pegamos dois compositores cariocas, que são o Noel Rosa, que faria 98 anos agora, e, no segundo semestre, Jacob do Bandolim, que faria 90 anos. Então o conceito é este: homenagear uma figura ou um estilo”.

Perguntado sobre a importância de Noel Rosa para a MPB, Tiso lamenta sua morte prematura, mas se orgulha de sua obra.

“Eu conheço o Noel desde menino. Ele sempre foi um grande compositor de sucesso, morreu muito jovem, aos 26 anos, e deixou uma obra imensa, de grande valor, tanto de qualidade musical como de poesia. Ele foi o primeiro dos grandes compositores brasileiros a reunir poesia com canção popular. Chico Buarque, por exemplo, é descendente de Noel Rosa’.

Atento à entrevista, o maestro Carlos Prazeres também deu sua opinião sobre o Projeto.

“Analisando pelo lado sinfônico, pelo lado erudito, nós, que trabalhamos com isso, quando lidamos com um Projeto como esse é uma coisa completamente nova. Você dá à música popular uma roupagem clássica e temos que provar que não existe música clássica nem popular, existe é música boa e música ruim. Então a gente faz música boa, independente de ser música clássica ou popular”.

Orgulhoso de trabalhar com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, Carlos acredita ser um projeto inovador, pois faz da música popular uma série oficial dentro da sua proposta de séries, que inclui a parte erudita em sua maioria.

“A gente pode dizer que, neste sentido, é uma orquestra pioneira. Eu fico muito feliz por esse trabalho ser feito pelo Wagner Tiso, que é esse mestre tanto do clássico como do popular e a gente pode confiar sempre nele”, completa.

Prestes a subir no palco, Wagner termina a entrevista explicando essa relação entre o erudito e o popular.

“O povo vem para ouvir as músicas que ele conhece, populares, e se surpreende com o som sinfônico. E quem gosta de orquestra vem aqui e se surpreende com a música popular dentro do som sinfônico. E trabalhar nessa fronteira é de maior importância. Villa-Lobos fez isso, não há nenhuma novidade, grandes compositores já fizeram e a gente consegue fazer também”.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Crítica: Pecados Inocentes

Promiscuidade e incesto são temas abordados no chocante filme que conta a história real do assassinato de Barbara Daly Baekeland, cometido por seu próprio filho, Tony (Eddie Redmayne), ocorrido em Londres em 11 de novembro de 1972.

Baseado no livro Savage Grace, Pecados Inocentes é estrelado por Julianne Moore, no papel de Barbara, uma bela e charmosa atriz que se casa com o rico empresário Brooks Baekeland (Stephen Dillane) e faz de tudo para se adaptar ao seu meio social.

O casal tem um filho, Antony, desde cedo idolatrado pela mãe. É ele, aliás, que narra a história. Quando adolescente, suas relações homossexuais revoltam seu pai, que o despreza e abandona a família. Mãe e filho vivem então um para o outro, numa cumplicidade que chega a ser doentia.

Barbara é uma mulher completamente instável, o que se vê desde o início e que piora com o tempo. Tony é um homem confuso, que não sabe bem o que é. Ele sofre com o desprezo do pai e os descontroles da mãe. Sempre de mudança, a única coisa na qual se apega é a coleira do cachorro que teve quando criança. E é esse pequeno fator que vai iniciar a discussão que o leva a matar Barbara.

O assunto é tão delicado que o filme demorou pelo menos oito anos para ficar pronto.
Mas o que ajudou muito foi o fato de o diretor Tom Kalin abordar a tragédia de Barbara num tom suave, sem transformá-la em um monstro.

Pelo contrário. O que o público observa é uma linda mulher, que de repente conseguiu um status por se casar com um homem bem sucedido, mas descobre que nada disso a livra da depressão e da promiscuidade. O mais intrigante é que Barbara não enxerga maldade em seus atos, principalmente com o filho. Para ela é apenas proteção.

Mas Kalin está acostumado com esse tipo de tema. O diretor gosta de abordar assuntos como homossexualidade e Aids. Seu trabalho tem sido aclamado pela crítica e recebido vários prêmios e indicações, incluindo honrarias do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Festival de Cinema de Sundance e outros festivais de cinema de diversidade sexual. Kalin ganhou o Gotham Awards Open Palm Award (por Swoon - Colapso do Desejo) e foi indicado para dois Independent Spirit Awards.

Pecados Inocentes é seu último trabalho, após 15 anos sem filmar um longa-metragem. O filme está para estrear em 25 de abril.

Ficha técnica

Título original: Savage Grace
EUA, 2006, 97 minutos
Gênero: Drama
Direção: Tom Kalin
Roteiro: Howard A. Rodman, adaptado do livro homônimo de Natalie Robins e Steven M.L. Aronson
Fotografia: Juan Miguel Azpiroz
Edição: John F. Lyons
Distribuição nacional: California Filmes

Elenco

Julianne Moore - Barbara Daly Baekeland
Stephen Dillane - Brooks Baekeland
Eddie Redmayne - Tony Baekeland
Barney Clark - Tony criança
Elena Anaya - Blanca
Belén Rueda - Pilar Durán
Abel Folk - Carlos Durán
Hugh Dancy - Sam Green
Unax Ugalde - Black Jake

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Crítica: O Homem da Cabeça de Papelão

Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra

Um homem é criticado por ser honesto e resolve trocar sua cabeça por uma de papelão. Essa é a história de Antenor, em O Homem da Cabeça de Papelão, conto de João do Rio, em cartaz no Leblon.

Adaptada por João Batista e interpretada pela Cia. Dramática de Comédia, a história data do início do século XIX, mas parece que foi escrita nos dias de hoje tamanha a atualidade.

Oberdan Junior – cuja voz é inconfundível – está muito bem na pele de Antenor, o homem que só fala a "verdade verdadeira" e, por isso, é apontado como louco pelos moradores da cidade do Sol, onde vive.

Sem vaidades e qualquer plano de carreira, Antenor é forçado pelo tio a ser bacharel, pois assim ele teria tudo nas mãos, bastava bajular um político-chefe para chegar a deputado.

Mas Antenor não queria. Ele era íntegro demais para fazer algo desse tipo. Porém, o homem apaixonou-se por uma filha da lavadeira de sua mãe e, para casar com ela, a moça exigiu que ele mudasse, que fosse igual aos outros.

Ao passar por uma relojoaria, Antenor resolve deixar sua cabeça para consertar e sai com uma de papelão.

Sua nova face mente, passa por cima de todos, trapaceia. E assim Antenor chega a deputado e seu nome é o mais indicado para o Senado. Decide-se casar com uma mulher de boa família, rica e despreza sua mãe, que, mesmo o achando louco, o protegia por sua bondade.

A moral da história nos traz uma reflexão interessante: “Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra”.

Cleiton Rasga, Giselda Mauler, Sonia Praça e João Batista estão à frente da Companhia e convidaram Oberdan Junior, Carol Machado e Nando Cunha para o musical. Completam o elenco ainda os músicos-atores Guilherme Miranda e Gil Windsor, que conduzem as canções de Marcelo Alonso Neves, feitas exclusivamente para o espetáculo.

O Homem da Cabeça de Papelão se destaca pela sátira bem pensada de um dos maiores contistas do Brasil, Paulo Barreto. O jornalista usava inúmeros pseudônimos para escrever suas críticas. O mais conhecido é João do Rio.

Diferente do cinema, o teatro aceita bem um musical e João Batista soube dar o tom certo para o texto fluir da melhor maneira. Aliás, quem conhece o conto, percebe que pouca coisa foi mudada. Batista procurou ser fiel à história.

Serviço

O Homem da Cabeça de Papelão
Onde
: Teatro Café Pequeno
Duração: 60 min
Endereço: Av. Ataulfo de Paiva ,269, LeblonTelefone: (21) 2294-4480
Lugares: 120Horário: Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h, até 1° de junho
Ingresso: R$ 25,00

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Gonzaguinha é homenageado pelo filho

Daniel Gonzaga canta músicas do pai em Comportamento Geral


O cantor Daniel Gonzaga, filho e neto de ícones da música brasileira, homenagea seu pai, Luís Gonzaga, em seu mais recente trabalho, Comportamento Geral.

Seu quinto CD é composto por 15 músicas de Gonzaguinha, algumas já bem conhecidas, como "Explode Coração" e "O que é o que é", e a inédita "Namorar". Ele foi gravado de uma maneira diferente, ao vivo, no estúdio, sem cortes e edições computadorizadas.

Dedilhando seu violão, Daniel fala sobre Comportamento Geral, sobre música e seu próximo trabalho.

Culturaetc. – Daniel, fale um pouco sobre Comportamento Geral.

Daniel Gonzaga – Diferente dos meus outros trabalhos, Comportamento Geral tem apenas músicas do meu pai. É um CD muito especial porque traz toda a minha família, em todos os sentidos. Primeiro porque eu estou cantando as músicas do meu pai e depois porque eu gravo com uma equipe que trabalha comigo há algum tempo e essa foi então a fotografia de um momento “Daniel enxergando o pai”.

Culturaetc. – Você tem um CD onde você faz uma homenagem ao seu avô, não é isso?

D.G. – Sim, é o meu terceiro CD. Então agora a minha família está fechada. E de agora em diante a gente pode se ocupar de projetos mais autorais.

Culturaetc. – E por que Comportamento Geral?

D.G. – Porque eu acho que a vida do Gonzaguinha, por si só, já foi um comportamento geral e porque a gente queria passar uma mensagem de cuidado com a comunidade, para ela não acreditar nos políticos e defender os seus próprios direitos, não com revolta, mas com inteligência, parar de trabalhar pelo bem do patrão, mas em benefício próprio, aproveitar os horários de preguiça e não os horários de trabalho, ser um cidadão melhor e parar de reclamar do próximo. Então Comportamento Geral é pra falar disso tudo com mais abertura.

Culturaetc. – Você sempre pensou em ser músico?

D.G. – Sempre, desde que eu me entendo por gente. Eu faço coro infantil desde os seis anos de idade, gravei com meu pai, com o Chico Anysio, Erasmo Carlos, comecei a tocar com doze, gravei o meu disco com 21 e é isso. Pra dizer que não pensei, eu fiz faculdade de jornalismo, estudei até o quinto período, mas com os shows não deu mais. Me sustento com a música desde os 18 e não dá tempo de ser outra coisa.

Culturaetc. – Você é sempre comparado com o seu pai e o seu avô? Como você lidá com isso?

D.G. – Comparações sempre rolam. A gente passa por isso o tempo inteiro, mas acho que o negócio não é saber se é melhor ou pior, mas apresentar uma proposta honesta e eu acho que isso é o que conta. Na verdade essa pressão deixou de acontecer há muito tempo porque eu não sucumbi a ela e eu já estou indo para um sexto disco. Então uso o meu tempo para trabalhar e não pra ficar pensando se estou fazendo certo ou errado. Acho que chegar aqui já é um índice de que estou fazendo as coisas certas. Esse tipo de pressão é pra quem está inseguro, pra quem não sabe seu caminho e eu sei bem o meu.

Culturaetc. – Como foi a escolha do repertório deste novo CD?

D.G. – Foi difícil porque o Gonzaga tem cerca de 400 canções e todas são boas. Então foram seis meses escutando bastante Gonzaguinha pra definir o que a gente queria fazer. Acabou que foi um pouco pelo coração e um pouco pelo que ele queria falar nas letras, pelo social.

Culturaetc. – E tem alguma que você aponte como a melhor composição, a melhor canção?

D.G. – Não dá, é impossível, é muita coisa. Às vezes você gosta de uma em um determinado momento e de outra num momento totalmente diferente. É difícil você apontar uma melhor canção. Tanta coisa fez parte da minha vida, nos shows, no dia-a-dia, ao vê-lo compondo, então não dá pra ter essa preferência.

Culturaetc. – Como foi a experiência de gravar um CD ao vivo, no estúdio, sem cortes e edições?

D.G. – A gente passou por um período de tanta limpeza digital que as pessoas esqueceram que elas são falhas, ficam roucas, têm problemas, o violão desafina. Então a gente quis passar essa atmosfera para o público, de um show controlado, sem público – é muito chato a gravação para quem está escutando – , e a gente queria passar essa noção de um artista cantando mesmo. Quem ouve o disco pode ter essa sensação de ter um show em casa e isso faz ele ficar parecido com o disco, que ficou mais original, com uma cara mais moderna. A gente não mudou nada. Tudo o que foi feito ali é de verdade, sem adicionar nada depois.

Culturaetc. – Como está essa questão de apoio cultural, de gravar um CD?

D.G. – Gravar CD é mole, é simples. Com um computador em casa hoje você grava um CD. Mas depois vem a questão da grana para você divulgar este CD e eu acho que o maior problema está aí, por conta das emissoras de rádio e de televisão. É muita demanda, tem muita gente gravando. A gente vive uma fase muito feliz devido à democracia tecnológica e por isso se torna fácil gravar CD. Eu acho que a gente, enquanto cidadão, precisa procurar outros caminhos, na internet, na televisão, nos jornais, parar de ouvir sempre as mesmas coisas, procurar abrir a cabeça para o novo, que está chegando, para as novas bandas, os novos artistas, os novos compositores. E também não acho que a gente está vivendo uma crise da música, como dizem os jornais. Eu não acredito nessa crise da música porque tem muita gente compondo muito bem. A crise está mais nesse hiato que a gente está vivendo de não saber para onde vai a TV digital, que foi modelo imposto pelo nosso queridíssimo Ministro das Telecomunicações, totalmente guiado por outra emissora, o MP3, a mídia do disco, o que vai acontecer com ela, se é pirataria, se não é... Mas a música brasileira está muitíssimo bem. Então tem muita coisa que entra nessa discussão de como é gravar um CD, pra que serve um CD. O objetivo é fazer o cidadão se conscientizar de que ele é o grande fomentador dessa música que acontece no Estado, no país, parar de comprar disco pirata na rua, não por uma questão de moral e de ordem, até porque eu sou contra, mas por uma questão de que, se você compra CD pirata, você não pode reclamar que existe uma produção, pois você está furando uma produção que acontece. E até mesmo parar de comprar CD pirata para alimentar os artistas que estão fazendo novas coisas.

Culturaetc. – Você acredita que as gravadoras estão perdendo o seu império e por isso são contra o download de músicas?

D.G. – As gravadoras já quebraram. Elas temem perder o controle da música, mas isso é uma coisa impossível de se frear. O objetivo hoje é anexar um outro valor à música e isso vai fazer o compositor trabalhar cada vez mais, pois ele vai poder gravar seu CD em casa e lançar na internet. E estimular também o uso consciente disso. A gente tem é que ser mais cidadão, em todos os sentidos.

Culturaetc. – Como está o processo do seu 6° CD?

D.G. – A gente lança um disco e já começa a trabalhar o próximo. Estou com umas 35 músicas inéditas e agora entra o processo de seleção, concepção do disco, para onde você quer levar, o que você quer dizer, quais são as músicas que você acha que têm que entrar, quais as músicas que, dali, vão para outros compositores etc. Então eu estou nesse trabalho de seleção, vou começar a gravá-las em casa e fazer toda a pré-produção, que é definir qual o arranjo que eu quero, que instrumentos vão entrar. Feito este trabalho, que demora cerca de um ano, a gente entra em estúdio para começar a gravar. as o processo de gravação vai ser muito semelhante a este disco. A gente vai gravar tudo ao vivo também, com uma dinâmica de gravação diferente. Não quero gravar mais nada separado, quero ser mais original.

Para saber mais sobre Daniel Gonzaga, basta entrar no site do cantor: www.danielgonzaga.com.br.