Daniel Gonzaga canta músicas do pai em Comportamento GeralO cantor
Daniel Gonzaga, filho e neto de ícones da música brasileira, homenagea seu pai, Luís Gonzaga, em seu mais recente trabalho,
Comportamento Geral.
Seu quinto CD é composto por 15 músicas de Gonzaguinha, algumas já bem conhecidas, como "Explode Coração" e "O que é o que é", e a inédita "Namorar". Ele foi gravado de uma maneira diferente, ao vivo, no estúdio, sem cortes e edições computadorizadas.
Dedilhando seu violão, Daniel fala sobre
Comportamento Geral, sobre música e seu próximo trabalho.
Culturaetc. – Daniel, fale um pouco sobre
Comportamento Geral.
Daniel Gonzaga – Diferente dos meus outros trabalhos,
Comportamento Geral tem apenas músicas do meu pai. É um CD muito especial porque traz toda a minha família, em todos os sentidos. Primeiro porque eu estou cantando as músicas do meu pai e depois porque eu gravo com uma equipe que trabalha comigo há algum tempo e essa foi então a fotografia de um momento “Daniel enxergando o pai”.
Culturaetc. – Você tem um CD onde você faz uma homenagem ao seu avô, não é isso?
D.G. – Sim, é o meu terceiro CD. Então agora a minha família está fechada. E de agora em diante a gente pode se ocupar de projetos mais autorais.
Culturaetc. – E por que
Comportamento Geral?
D.G. – Porque eu acho que a vida do Gonzaguinha, por si só, já foi um comportamento geral e porque a gente queria passar uma mensagem de cuidado com a comunidade, para ela não acreditar nos políticos e defender os seus próprios direitos, não com revolta, mas com inteligência, parar de trabalhar pelo bem do patrão, mas em benefício próprio, aproveitar os horários de preguiça e não os horários de trabalho, ser um cidadão melhor e parar de reclamar do próximo. Então
Comportamento Geral é pra falar disso tudo com mais abertura.
Culturaetc. – Você sempre pensou em ser músico?
D.G. – Sempre, desde que eu me entendo por gente. Eu faço coro infantil desde os seis anos de idade, gravei com meu pai, com o Chico Anysio, Erasmo Carlos, comecei a tocar com doze, gravei o meu disco com 21 e é isso. Pra dizer que não pensei, eu fiz faculdade de jornalismo, estudei até o quinto período, mas com os shows não deu mais. Me sustento com a música desde os 18 e não dá tempo de ser outra coisa.
Culturaetc. – Você é sempre comparado com o seu pai e o seu avô? Como você lidá com isso?
D.G. – Comparações sempre rolam. A gente passa por isso o tempo inteiro, mas acho que o negócio não é saber se é melhor ou pior, mas apresentar uma proposta honesta e eu acho que isso é o que conta. Na verdade essa pressão deixou de acontecer há muito tempo porque eu não sucumbi a ela e eu já estou indo para um sexto disco. Então uso o meu tempo para trabalhar e não pra ficar pensando se estou fazendo certo ou errado. Acho que chegar aqui já é um índice de que estou fazendo as coisas certas. Esse tipo de pressão é pra quem está inseguro, pra quem não sabe seu caminho e eu sei bem o meu.
Culturaetc. – Como foi a escolha do repertório deste novo CD?
D.G. – Foi difícil porque o Gonzaga tem cerca de 400 canções e todas são boas. Então foram seis meses escutando bastante Gonzaguinha pra definir o que a gente queria fazer. Acabou que foi um pouco pelo coração e um pouco pelo que ele queria falar nas letras, pelo social.
Culturaetc. – E tem alguma que você aponte como a melhor composição, a melhor canção?
D.G. – Não dá, é impossível, é muita coisa. Às vezes você gosta de uma em um determinado momento e de outra num momento totalmente diferente. É difícil você apontar uma melhor canção. Tanta coisa fez parte da minha vida, nos shows, no dia-a-dia, ao vê-lo compondo, então não dá pra ter essa preferência.
Culturaetc. – Como foi a experiência de gravar um CD ao vivo, no estúdio, sem cortes e edições?
D.G. – A gente passou por um período de tanta limpeza digital que as pessoas esqueceram que elas são falhas, ficam roucas, têm problemas, o violão desafina. Então a gente quis passar essa atmosfera para o público, de um show controlado, sem público – é muito chato a gravação para quem está escutando – , e a gente queria passar essa noção de um artista cantando mesmo. Quem ouve o disco pode ter essa sensação de ter um show em casa e isso faz ele ficar parecido com o disco, que ficou mais original, com uma cara mais moderna. A gente não mudou nada. Tudo o que foi feito ali é de verdade, sem adicionar nada depois.
Culturaetc. – Como está essa questão de apoio cultural, de gravar um CD?
D.G. – Gravar CD é mole, é simples. Com um computador em casa hoje você grava um CD. Mas depois vem a questão da grana para você divulgar este CD e eu acho que o maior problema está aí, por conta das emissoras de rádio e de televisão. É muita demanda, tem muita gente gravando. A gente vive uma fase muito feliz devido à democracia tecnológica e por isso se torna fácil gravar CD. Eu acho que a gente, enquanto cidadão, precisa procurar outros caminhos, na internet, na televisão, nos jornais, parar de ouvir sempre as mesmas coisas, procurar abrir a cabeça para o novo, que está chegando, para as novas bandas, os novos artistas, os novos compositores. E também não acho que a gente está vivendo uma crise da música, como dizem os jornais. Eu não acredito nessa crise da música porque tem muita gente compondo muito bem. A crise está mais nesse hiato que a gente está vivendo de não saber para onde vai a TV digital, que foi modelo imposto pelo nosso queridíssimo Ministro das Telecomunicações, totalmente guiado por outra emissora, o MP3, a mídia do disco, o que vai acontecer com ela, se é pirataria, se não é... Mas a música brasileira está muitíssimo bem. Então tem muita coisa que entra nessa discussão de como é gravar um CD, pra que serve um CD. O objetivo é fazer o cidadão se conscientizar de que ele é o grande fomentador dessa música que acontece no Estado, no país, parar de comprar disco pirata na rua, não por uma questão de moral e de ordem, até porque eu sou contra, mas por uma questão de que, se você compra CD pirata, você não pode reclamar que existe uma produção, pois você está furando uma produção que acontece. E até mesmo parar de comprar CD pirata para alimentar os artistas que estão fazendo novas coisas.
Culturaetc. – Você acredita que as gravadoras estão perdendo o seu império e por isso são contra o download de músicas?
D.G. – As gravadoras já quebraram. Elas temem perder o controle da música, mas isso é uma coisa impossível de se frear. O objetivo hoje é anexar um outro valor à música e isso vai fazer o compositor trabalhar cada vez mais, pois ele vai poder gravar seu CD em casa e lançar na internet. E estimular também o uso consciente disso. A gente tem é que ser mais cidadão, em todos os sentidos.
Culturaetc. – Como está o processo do seu 6° CD?
D.G. – A gente lança um disco e já começa a trabalhar o próximo. Estou com umas 35 músicas inéditas e agora entra o processo de seleção, concepção do disco, para onde você quer levar, o que você quer dizer, quais são as músicas que você acha que têm que entrar, quais as músicas que, dali, vão para outros compositores etc. Então eu estou nesse trabalho de seleção, vou começar a gravá-las em casa e fazer toda a pré-produção, que é definir qual o arranjo que eu quero, que instrumentos vão entrar. Feito este trabalho, que demora cerca de um ano, a gente entra em estúdio para começar a gravar. as o processo de gravação vai ser muito semelhante a este disco. A gente vai gravar tudo ao vivo também, com uma dinâmica de gravação diferente. Não quero gravar mais nada separado, quero ser mais original.
Para saber mais sobre Daniel Gonzaga, basta entrar no site do cantor: www.danielgonzaga.com.br.