terça-feira, 2 de junho de 2009

Um leitor ignorante

Lendo o maravilhoso artigo de Mário Marques, no JB, em que ele fala que, após escutar Chico Buarque nos convencemos que a idiota da Mallu Magalhães e o patinho feio da Susan Boyle não são nada - o que nem precisa de muito - deparei-me com um comentário um tanto quanto bizarro.

Para espanto do próprio autor, ele recebeu um e-mail de um leitor sobre o Viradão Cultural, que a prefeitura do Rio promove esta semana.

No texto de Venâncio Amorim, do Méier, ele diz que “o mal de políticos despreparados para serem gestores da cultura como a Jandira Feghali é que eles acham que oferecer showzinho na comunidade é cultura. Acham que estão fazendo um favor, mantendo as pessoas em seus bairros. Quando quero ter acesso à cultura vou a Ipanema, a Copacabana, ao Leblon, aonde for, oras. Esse pensamento de levar 'cultura' no lugar onde as pessoas moram é de uma ignorância e de uma segregação ímpar".

Ímpar, meu caro Venâncio, é a sua burrice, que me deixa até encabulada. Estou há horas tentando achar palavras para qualificar um comentário tão infeliz.

Quando morava em Irajá reclamava muito que os melhores shows e peças teatrais aconteciam na Zona Sul e eu tinha que pegar dois ônibus para assistí-los. Fora a grana que tinha que gastar com os ingressos! E isso sem contar que, por ser mulher, não podia ir sozinha nem voltar tarde. Era um transtorno.

Agora, casada e morando na Zona Sul, posso fazer muitas coisas a pé! Ficou tudo mais fácil.

Mas não esqueço as minhas origens e me solidarizo com quem se preocupa em ouvir e assistir a coisas interessantes, diferentes. Todos temos direito de ter acesso à cultura, seja na Baixada ou em Ipanema, por um preço que condiz com nossa realidade.

Esse cidadão pode até ter rancor da nova gestão por não ter votado nela, mas criticar uma atitude como essa, de levar cultura e entretenimento a todos os cantos do Estado, de graça e a preços populares, é incompreensível. Só mostra que não são os seus vizinhos os ignorantes, mas ele mesmo.