terça-feira, 19 de agosto de 2008

Lobão sofre de uma doença muito séria

Cantor tem "inveja corrosiva" incurável

Em entrevista ao Jornal do Brasil, nesta terça, o cantor Lobão declarou que "a bossa nova não passa de uma punheta que se toca de pau mole". Em outro trecho, disse ainda que o estilo musical mais reverenciado no mundo é "uma língua morta, assim como essas bandas de choro e samba, que ficam tocando naquele lugar sujo que é a Lapa".

Mas quem é esse cantor que nunca representou nada na música brasileira para falar de um estilo criado por monstros sagrados como Roberto Menescal, Johnny Alf, Carlos Lyra, Lenny Andrade e companhia? Quem é esse cidadão de voz e comportamento ridículos, metido a revolucionário que faz acústico na MTV, o maior canal jabazeiro de música do mundo? Quem é ele para desmerecer quem cantou a beleza do Rio, do mar, o amor, quem criou a batida mais tocada no mundo e mudou até mesmo o estilo de tocar um violão?

Lobão sofre de algo gravíssimo chamado "inveja corrosiva". Nunca foi lembrado em prêmios, jamais recebeu qualquer tipo de homenagem sequer teve inúmeras músicas regravadas. Como se isso bastasse para ser considerado um bom músico.

Infelizmente muitos artistas de imensurável talento são esquecidos mesmo. O próprio Johnny Alf, um exemplar compositor, pianista e cantor, ponto referencial da Bossa Nova, mais até do que João Gilberto, é pouco conhecido da geração nascida nos anos 60, sequer teve tanta repercussão como o artista de Juazeiro.

Mas quem se interessa pela cultura nacional certamente conhece e reconhece o talento do autor de "Rapaz de bem", "Céu e Mar", "Ilusão A Toa" e "Eu e a Brisa".

Quanto ao desdém pelas bandas que tocam na Lapa, o lugar mais democrático do Rio de Janeiro, onde tribos de todas as classes e credos se encontram sem qualquer tipo de rixa, é de dar pena.

Nunca se viu tantos jovens com sambas de raiz na ponta da língua devido a essas tais bandas de choro e samba que tocam por aí. A quem ele se refere? A bandas como Casuarina, Galocantô, Anjos da Lua e Batuque na Cozinha, que promovem, pelo menos duas vezes por ano, o projeto "Samba em Quatro Tempos", que faz uma viagem pela música desde "Pelo Telefone", de Donga, até os dias de hoje, com casa cheia garantida?

Bandas como Grupo Semente e Samba de Fato, que resgatam clássicos da MPB, como Candeia e Mauro Duarte? E o que ele diria de cinco mil pessoas lotando a Fundição Progresso, numa segunda e numa terça, para a gravação do CD Samba Social Clube, considerada a maior festa do samba dos últimos tempos?

Realmente, ele está certo e cinco mil estão alienados.

Não sei se lamento mais por ele ou por um jornal de tanta respeitabilidade e aceitação como o JB, que dá ibope para um cara como Lobão. Aliás, que apelido mais cafona. Enfim...