quarta-feira, 30 de abril de 2008

A música não tem tempo nem época

Dori Caymmi e Joyce apresentam Rio-Bahia com grande estilo

São muitos os que pensam que o filho do grande Dorival Caymmi é baiano. Mas o fato é que um dos mais importantes compositores e arranjadores da Música Brasileira é carioca, porém criado na Bahia desde cedo.

Já a cantora Joyce é nascida e criada em Copacabana. Quando ingressou na música seu primeiro arranjador foi nada mais nada menos que Dori Caymmi.

Quarenta anos se passaram e os dois resolveram lançar, no Rio de Janeiro, o CD Rio-Bahia, com novas e velhas composições da dupla, como Saudade do Rio (Dori Caymmi / Paulo César Pinheiro) e Saudade da Bahia (clássico de Dorival Caymmi), e novas parcerias, como a de Joyce e Carlos Lyra, em Era Copacabana, e Dori e Chico Buarque, em Fora de Hora.

Produzido em 2005 para as gravadoras Far Out, de Londres, e JVC, de Tóquio, o CD foi gravado nos estúdios Mosh, em São Paulo. Mas só agora a dupla apresenta este belo trabalho, repleto de Samba e Bossa, que ainda conta com a participação do consagrado jazzista americano Kenny Werner, no piano, além do baixo de Rodolfo Stroeter, da bateria de Tutty Moreno, dos sopros de Proveta e Teco Cardoso, que juntamente com o percussionista Ronaldo Silva, forma a base instrumental do álbum.

Com um jeitão simples e sorridente, Dori Caymmi elogia muito o CD e sua parceira.

“Quando eu era menino o meu apelido era baiano e por isso a Joyce resolveu colocar Rio-Bahia”, explica.

O cantor confessa que é bom trabalhar com a Joyce. Para o irmão de Nana e Danilo Caymmi, a cantora seria uma quarta irmã.

“Somos irmãos de músicas, de pais da música, temos as mesmas influências, a gente veio das mesmas rodas e isso é muito importante”, completa.

Um pouco mais tímida, Joyce também se rasga de elogios a Dori.

“É uma delícia trabalhar com o Dori. Ele é meu ídolo. Ele foi o meu primeiro arranjador e o primeiro a gente nunca esquece (risos)”.

Dori e Joyce vieram de uma época farta de bons músicos, como Roberto Menescal, Edu Lobo, Ronaldo Bôscoli e tantos outros. Mas os tempos são outros e, mesmo assim, continuam fazendo o que sabem de melhor: boas músicas.

Sobre o cenário musical de hoje, Dori não hesita em dizer que a velocidade e o mau gosto andam juntos.

“Hoje o mau gosto chega muito mais rápido do que naquela época. Antigamente as pessoas eram mais fáceis de lidar, elas não tinham tanta pressa. E era lindo morar no Rio de Janeiro. Hoje acabou-se um pouco o romantismo. Eu gosto é dessa arte do encontro com pessoas que a gente se entende, como a Joyce. Aí é muito bom”.

Já Joyce acredita que a época é a mesma.

“Estão todos aí. A música está muito viva, mesmo das pessoas que já foram, como o Tom. A música não tem tempo nem época. Quando ela é boa, seja qual for o gênero, ela é eterna”, filosofa.

Mas Dori acrescenta que o trabalho de toda essa safra não foi em vão. Ele comemora o fato de ainda existirem jovens interessados em ouvir MPB, ouvir Bossa.

Já Joyce lembra que a década de 60, no auge da Bossa Nova, grandes compositores passaram por dificuldades.

“Somos como a maré. Em um momento estamos lá em cima e, de repente, a maré baixa. Eu acho que temos que ver esta coisa com muita filosofia e trabalhar pela beleza da música para que ela sobreviva por muitos anos”.

Para a cantora o problema do Brasil é estrutural. Não há nenhuma educação musical e isso faz com que as pessoas percam a sensibilidade, a compreensão por uma música mais elaborada. Mas ainda há uma esperança.

“Eu acho que tem toda uma geração de filhos de pessoas da nossa época que estão fazendo um trabalho bonito e podem levar adiante nossa música porque tiveram exposição a ela durante toda a vida, como nós fomos”.