segunda-feira, 14 de abril de 2008

Crítica: O Homem da Cabeça de Papelão

Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra

Um homem é criticado por ser honesto e resolve trocar sua cabeça por uma de papelão. Essa é a história de Antenor, em O Homem da Cabeça de Papelão, conto de João do Rio, em cartaz no Leblon.

Adaptada por João Batista e interpretada pela Cia. Dramática de Comédia, a história data do início do século XIX, mas parece que foi escrita nos dias de hoje tamanha a atualidade.

Oberdan Junior – cuja voz é inconfundível – está muito bem na pele de Antenor, o homem que só fala a "verdade verdadeira" e, por isso, é apontado como louco pelos moradores da cidade do Sol, onde vive.

Sem vaidades e qualquer plano de carreira, Antenor é forçado pelo tio a ser bacharel, pois assim ele teria tudo nas mãos, bastava bajular um político-chefe para chegar a deputado.

Mas Antenor não queria. Ele era íntegro demais para fazer algo desse tipo. Porém, o homem apaixonou-se por uma filha da lavadeira de sua mãe e, para casar com ela, a moça exigiu que ele mudasse, que fosse igual aos outros.

Ao passar por uma relojoaria, Antenor resolve deixar sua cabeça para consertar e sai com uma de papelão.

Sua nova face mente, passa por cima de todos, trapaceia. E assim Antenor chega a deputado e seu nome é o mais indicado para o Senado. Decide-se casar com uma mulher de boa família, rica e despreza sua mãe, que, mesmo o achando louco, o protegia por sua bondade.

A moral da história nos traz uma reflexão interessante: “Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra”.

Cleiton Rasga, Giselda Mauler, Sonia Praça e João Batista estão à frente da Companhia e convidaram Oberdan Junior, Carol Machado e Nando Cunha para o musical. Completam o elenco ainda os músicos-atores Guilherme Miranda e Gil Windsor, que conduzem as canções de Marcelo Alonso Neves, feitas exclusivamente para o espetáculo.

O Homem da Cabeça de Papelão se destaca pela sátira bem pensada de um dos maiores contistas do Brasil, Paulo Barreto. O jornalista usava inúmeros pseudônimos para escrever suas críticas. O mais conhecido é João do Rio.

Diferente do cinema, o teatro aceita bem um musical e João Batista soube dar o tom certo para o texto fluir da melhor maneira. Aliás, quem conhece o conto, percebe que pouca coisa foi mudada. Batista procurou ser fiel à história.

Serviço

O Homem da Cabeça de Papelão
Onde
: Teatro Café Pequeno
Duração: 60 min
Endereço: Av. Ataulfo de Paiva ,269, LeblonTelefone: (21) 2294-4480
Lugares: 120Horário: Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h, até 1° de junho
Ingresso: R$ 25,00