terça-feira, 25 de março de 2008

Luiza Possi alcança sua maturidade

Existem algumas características essenciais que um músico deve ter para cair nas graças do público. Qualidades como uma boa voz, é claro, presença de palco e bom humor. Coisas que Luiza Possi tem de sobra.

Com 23 anos e quatro CDs lançados, Luiza distribui beleza e simpatia em seu mais novo show, “A vida é mesmo agora”.

Dona de um sorriso sapeca e uma voz suave e encantadoramente afinada, a filha de Zizi Possi deixou para trás aquele estilo pop e comercial, que acaba viciando cantores e bandas em início de carreira, e está
completamente madura, cantando um rico repertório cuidadosamente escolhido por ela.

Em um bate-papo muito descontraído com o Culturaetc., a moça falou um pouco sobre sua trajetória.

Culturaetc: Luiza, conta como você decidiu viver de música.

Luiza Possi: Aos 15 anos eu fui convidada por uma banda para participar de um concurso onde havia umas 500 bandas, no Credicard Hall, em SP. A gente ganhou e o prêmio era abrir um show do Skank. A partir daquele momento eu decidi o que queria fazer.

Culturaetc: Mas você já tinha uma banda ou foi a primeira vez?

Luiza Possi: Tinha, mas ela não passou neste concurso. Os caras dessa outra banda que me viram, gostaram e me convidaram. Eu entrei no palco segura, tranqüila, com 11 mil pessoas na platéia e vi que era aquilo ali que eu queria. Mas depois disso passei por muita dificuldade. As coisas não são tão fáceis só porque eu sou filha da minha mãe, muito pelo contrário.

Culturaetc: Você acha que tem pouco espaço na mídia, até por causa da sua mãe?

LP: Não, pelo contrário. Eu acho que tenho muito espaço na mídia, pois vou muito ao Faustão, vou ao Altas Horas, tenho crítica em todos os lugares... Mas realmente eu não aproveito a minha mãe nem acho isso saudável. Até porque nunca a deixei participar de nada, mas agora vou deixar.

Culturaetc.: E por que você não queria a participação da sua mãe no começo?

LP: Eu precisava me descobrir e saber até onde eu ia sem ela. É claro que ela tem muito a me ensinar, mas eu precisava me conhecer antes.

Culturaetc.: Você começou com um estilo pop, um pouco comercial, e hoje está mais livre, cantando MPB, fazendo algo mais trabalhado. Como foi essa transição?

LP: Foi difícil, como pra qualquer adolescente. Quando eu me lancei eu cantava em bandas, fazia cover. Quando eu fui convidada a gravar um disco eu não sabia o que queria cantar e acabei cantando um monte de música brega (risos). Fazer o quê? Cai na mão de um produtor popular, que queria que eu fizesse coisa popular e ai foi isso.

Culturaetc.: E quando você se viu com um CD na mão?

LP: Quando lancei o disco vi o tamanho da encrenca, da proporção e pensei “não é isso o que eu quero fazer. Quero descobrir a minha musicalidade”. Aí comecei a compor e entender mais o que queria fazer e buscar mais compositores que eu gostava, como Zeca Baleiro e Frejat, que fizeram parte do meu segundo disco.

Culturaetc.: E foi por isso que você demorou quase três anos para lançar seu terceiro CD, o “Escuta”?

LP: Sim. Tive muito tempo para pensar, compor e ver que queria outra coisa e preparar um CD independente de qualquer gravadora e qualquer pessoa que pudesse mandar em mim. Ai comecei a tomar conta da minha carreira artisticamente falando. E hoje o que está aí é o resultado desta prática.

Culturaetc.: Entre os compositores que você canta, tem algum de sua preferência?

LP: Hoje eu posso dizer que tenho um repertório redondo. Tudo o que eu canto é o que eu quero cantar. Todo mundo que está aí é porque tem que estar. O Dudu Falcão, por exemplo, é um compositor que compõe comigo. Estou muito próxima dele ultimamente. Ele fez “Pedra de Areia”, que eu também canto, que é dele e do Lenine, tem Chico Buarque, que eu amo e que eu canto à beça, e Moska, que tem 20 mil músicas dele no meu repertório... Um dia vou fazer um disco “Luiza canta Moska” (risos).

Culturaetc.: E que história é essa de você virar atriz?

LP: Eu fui à festa de estréia da novela do Walter Negrão, “Desejo Proibido” (na qual atua seu marido, o ator Pedro Neschling) e uma produtora comentou que ele fez uma novela onde tinha uma personagem que era cantora de bolero e aí, na época, pensaram em mim, mas acabou que o projeto não foi pra frente. E aí falaram que, se fosse, eu seria a protagonista e eu estou deixando rolar...

Culturaetc.: Como é conciliar sua vida pessoal com o trabalho? Já pensou em cancelar shows devido ao cansaço?

LP: Nada! Estou aí pra trabalhar... Tenho que trabalhar, rodar o Brasil e o mundo inteiro. Agora que as coisas estão acontecendo! Eu vou sair desse eixo Rio – São Paulo, onde as coisas são mais fáceis para acontecer, e vou para o Nordeste, Sul, Centro-Oeste, Japão, America Latina... Não tem essa de cancelar show. Quando tem um eu dou graças a Deus. É uma luta. Você não tem idéia do que é. Quantos anos eu já passei em casa sem fazer um show! Eu aparecia em boate só pra poder cantar... Eu dou muito valor. É muito difícil esse mundo...

Culturaetc.: E o que você faz além da música?

LP: Eu faço balé, malho, estudo piano, cuido das minhas plantas, da minha casa... É muito difícil cuidar de casa. Sempre morei com minha mãe. Então saí há dois anos e meio, quando eu e Pedro nos juntamos e arrumamos uma casa pra gente.

Culturaetc.: Você acabou de lançar o CD e DVD “A vida é mesmo agora”, mas já pensa em outro trabalho?

LP: Sim. Essa coisa de compor é muito louca. Já tem algumas músicas ai e dá vontade de fazer um disco novo, claro. Estou sempre buscando mais.

Os Miquinhos estão de volta!



Oito amigos resolvem se encontrar por acaso e fazer shows por acaso. De repente, eles já estão com um disco nas lojas e com sucesso tocando nas rádios, e nada mais é simplesmente por acaso...

Essa é a história de João Penca e seus Miquinhos Amestrados que, depois de 14 anos parados, resolveram se encontrar e fazer um show pra lá de irreverente no Rio de Janeiro, neste mês de março.

E humor é o que não falta para este grupo, que hoje está reduzido em três. Bob Gallo, Avelar Love e Selvagem Big Abreu parecem os mesmos garotões que emplacaram com Telma, Eu Não Sou Gay e Pop Star. Eles brincam o tempo todo, correm de um lado para o outro, trocam de roupa e não deixam ninguém ficar parado.

Mas é bom que fique claro: tudo pode parecer uma brincadeira despretensiosa, um festival de besteirol, mas João Penca e seus Miquinhos Amestrados deixa muita bandinha de garotões no chão. Eles continuam bem afinados e com um som pra ninguém colocar defeito.

O João Penca se formou em 1972, através da iniciativa de oito amigos: Bob Gallo (voz), Avelar Love (voz), Léo Jaime (voz), Selvagem Big Abreu (guitarra, violão e voz), Cláudio Killer (teclados e voz), Del Rosa (baixo e voz), Guilherme Hullygully (guitarra e violão) e Mimi Erótico (bateria).

Quando o primeiro disco da banda saiu, em 1983, o grupo já não contava com Leo Jaime, que partiu para carreira solo. Mas isso não impediu que “Os Maiores Sucessos de João Penca & Seus Miquinhos Amestrados” fizesse sucesso.

Porém, neste mesmo ano, a banda perderia mais um componente, o tecladista Cláudio Killer, que falecera em um acidente de carro.

Em uma conversa animada, o trio falou sobre essas perdas, seus sucessos, sua volta e seus planos.

E eles estavam tão empolgados que, na primeira pergunta, quando indagados sobre a escolha do nome, eles perguntam “isso é sério ou é brincadeira?”.

Após os risos, Bob Gallo explica.

Quando a gente era mais novo a gente era fã de bandas que sempre tinham o nome de “algum cara e alguma porcaria.”. Um dia, algum louco, que ninguém sabe quem foi, deu esse nome, do nada.

E Avelar Love completa.

A gente achou esse nome tão absurdo que resolveu adotar. E isso foi no verão de 1982.

No ano de 1986, quando lançaram seu segundo trabalho, “OK My Gay”, o João Penca já era um trio.


A galera fazia aquilo de brincadeira. Cada um tinha seu compromisso com escola, pais, etc. Então, quando a coisa começou a ficar séria, quatro pularam fora de uma vez só, exlica Bob.

Nossa pretensão não era fazer sucesso, ganhar dinheiro nem nada, era ganhar mulher mesmo. Então fizemos tudo de forma despretensiosa. Tínhamos nossas metas de carreira – somos engenheiros – e a música foi uma forma de se dar bem com as mulheres, explica o sincero Avelar, que jura não ter tido tanta sorte como imaginava.

E parece que, até hoje, o trio continua com a idéia de se divertir.

A gente continua se divertindo, despretensiosamente, como a gente gosta de fazer, com amigos que se conhecem há 30 anos, explica Bob Gallo.

Deixando um pouco o humor de lado, o João Penca deu uma analisada no cenário cultural e falou um pouco sobre o futuro.

Há um bom tempo que não há um movimento genuíno cultural. Há meio que um vazio. Mas o mercado está mudando muito por causa da internet. As gravadoras não são mais donas do mercado, comenta Avelar.

E as coisas estão mais democráticas. Cada vez mais fica fácil para as pessoas colocarem seus trabalhos na internet. É um momento de mudança. A produção de massa passa a ser uma produção segmentada, completa Bob.

Mas o público está mesmo é ansioso para saber quando sai um DVD da banda.

A gente está sem pretensão, está sendo muito bom não estar com uma coisa determinada, de que tem que fazer DVD. A gente está tocando, melhorando e uma hora vai rolar, adianta Bob.