domingo, 3 de maio de 2009

Algumas palavras sobre Augusto Boal

Há pessoas que, só de falar o nome, não precisam de elogios, pois torna-se até redundante. É o caso de Augusto Boal, um dos maiores homens de visão que o teatro já teve e que nos deixou neste 2 de maio cinzento.

No início da década de 50, José Renato Pécora, aluno do grande Décio de Almeida Prado, da Escola de Artes Dramáticas de São Paulo, trouxe para o Brasil as técnicas do Teatro de Arena, criadas pela americana Margot Jones.
Diferente dos palcos tradicionais, onde "você sempre tem a defesa das outras paredes", como explica o próprio, na arena só existe o ator e o público.

Era o início de uma nova era, de onde sairiam os maiores textos e nomes dos palcos brasileiros.

Alguns anos depois, sem conseguir dar conta das atividades da companhia que criara, por sugestão de Sábato Magaldi, Pécora convidou Boal para dirigir as peças com ele. Começa a melhor fase do Teatro de Arena de São Paulo.

Acompanhado por Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho, Sergio Britto, Milton Gonçalves, entre outros, Boal escreveu e dirigiu as maiores peças de todos os tempos. Logo após a sua chegada, Guarnieri o apresentou "Eles não usam black tie", que ficou um ano em cartaz e, tamanha era a proximidade com a história em que o país vivia, o texto permanece atual.

Depois veio a série de musicais, outras companhias se formaram, como CPC da Une, Teatro Oficina, Teatro do Oprimido... Tudo fruto do Teatro de Arena de São Paulo, sob influência de Augusto Boal.

Ele pensou, em primeiro lugar, no povo. Deu valor a textos nacionais, que falassem do e para o operário, as donas de casa, o oprimido. Levou o teatro para as cadeias de diversas partes do mundo. Foi indicado a prêmio Nobel da Paz por isso.

Era sisudo, difícil de lidar - me deu foras e foi duro - mas não abandonou suas raízes, mesmo depois da concorrência desleal da televisão.

Muitos que trabalharam com ele e que levantaram a bandeira do teatro popular hoje se esqueceram disso. Há atores e atrizes que chegaram a ser espancados no meio da rua, nus, e que hoje não fazem peça por menos de R$ 50 o ingresso e ainda aceitam papéis medíocres em novelas, que estão cada vez perdendo mais o sentido, como Marília Pêra.

Mas Boal fez história e deu valor a ela até sua morte. Espero que ele não tenha ido tão decepcionado com o teatro de hoje.

Já que muitos só dão valor quando perdem algo precioso, torço para que ele seja mais estudado e que seus ideais não morram, como os de muitos de sua época.

Palmas para o mestre.