
Alguém já disse que “a música é a única coisa que atravessa todos os grupos étnicos e todas as línguas”. A Orquestra Petrobrás Sinfônica traduziu muito bem a frase do trompetista Lee Morgan na noite de ontem, no Canecão – RJ, ao homenagear Noel Rosa, junto com Diogo Nogueira e Beth Carvalho.
No primeiro momento o público pode estranhar o fato de a música popular ser orquestrada, ainda mais em um país não muito acostumado com o erudito. Mas, se estudarmos com carinho o nosso passado, lembraremos que um dos maiores maestros da história da música, Villa-Lobos, fez isso melhor que ninguém.
Noel Rosa, se vivo, faria 98 anos no mês de maio. Responsável pela união do samba do morro com o do asfalto, o poeta da Vila nos deixou cedo, em 1937, com apenas 26 anos de idade, vítima de tuberculose.
Para lembrar seu centenário, os maestros Wagner Tiso e Carlos Prazeres fizeram uma seleção de seus mais conhecidos sambas, como “Gago Apaixonado” e “Último Desejo”, e convidou Beth Carvalho e Diogo Nogueira para interpretá-los, em grande estilo, com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, dentro do Projeto MPB&Jazz.
Em sua quinta edição, o MPB&Jazz começou dentro da Orquestra como uma programação extra de música popular. A empresária e produtora Giselle Goldoni Tiso convidou Túlio Feliciano para a direção e roteiro e o maestro Wagner Tiso para a regência.
Antes do show, que aconteceu no dia de São Jorge, o devoto do Santo, trajado com camisa vermelha com a estampa do dragão e all-star azul, Tiso falou, com muito orgulho, do projeto que mistura, há cinco anos, música popular e erudita.
“O maestro Carlos Prezeres está comigo desde o início e a gente fazia um movimento de música popular com a Orquestra Sinfônica dentro de um grupo de convidados, tanto solistas como intérpretes. Mas há dois anos estamos fazendo a série em conceitos”.
Entre os homenageados do projeto estão Pixinguinha e João Bosco. E Tiso falou sobre como é feita esta seleção.
“Ano passado a gente fez Cem Anos de Frevo. Depois fizemos uma homenagem à obra de Edu Lobo e este ano pegamos dois compositores cariocas, que são o Noel Rosa, que faria 98 anos agora, e, no segundo semestre, Jacob do Bandolim, que faria 90 anos. Então o conceito é este: homenagear uma figura ou um estilo”.
Perguntado sobre a importância de Noel Rosa para a MPB, Tiso lamenta sua morte prematura, mas se orgulha de sua obra.
“Eu conheço o Noel desde menino. Ele sempre foi um grande compositor de sucesso, morreu muito jovem, aos 26 anos, e deixou uma obra imensa, de grande valor, tanto de qualidade musical como de poesia. Ele foi o primeiro dos grandes compositores brasileiros a reunir poesia com canção popular. Chico Buarque, por exemplo, é descendente de Noel Rosa’.
Atento à entrevista, o maestro Carlos Prazeres também deu sua opinião sobre o Projeto.
“Analisando pelo lado sinfônico, pelo lado erudito, nós, que trabalhamos com isso, quando lidamos com um Projeto como esse é uma coisa completamente nova. Você dá à música popular uma roupagem clássica e temos que provar que não existe música clássica nem popular, existe é música boa e música ruim. Então a gente faz música boa, independente de ser música clássica ou popular”.
Orgulhoso de trabalhar com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, Carlos acredita ser um projeto inovador, pois faz da música popular uma série oficial dentro da sua proposta de séries, que inclui a parte erudita em sua maioria.
“A gente pode dizer que, neste sentido, é uma orquestra pioneira. Eu fico muito feliz por esse trabalho ser feito pelo Wagner Tiso, que é esse mestre tanto do clássico como do popular e a gente pode confiar sempre nele”, completa.
Prestes a subir no palco, Wagner termina a entrevista explicando essa relação entre o erudito e o popular.
“O povo vem para ouvir as músicas que ele conhece, populares, e se surpreende com o som sinfônico. E quem gosta de orquestra vem aqui e se surpreende com a música popular dentro do som sinfônico. E trabalhar nessa fronteira é de maior importância. Villa-Lobos fez isso, não há nenhuma novidade, grandes compositores já fizeram e a gente consegue fazer também”.
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