terça-feira, 2 de setembro de 2008

Linha de Passe passou dos limites

Kaique Jesus Santos: Está nele o motivo para assistir a Linha de Passe

Falta coragem para críticos pararem de bajular filmes de diretores badalados

Existem filmes que, indiscutivelmente, só recebem elogios pelo nome de peso na direção. Às vezes o longa não tem, sequer, uma cena marcante, mas, se for desse ou daquele diretor é logo considerado um clássico. É o que acontece com Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas.

O tema mais que batido do cinema nacional trata de uma família pobre, que vive na periferia de São Paulo. Sandra Corveloni, que ganhou, recentemente um Cannes duvidoso, como melhor atriz, é Cleusa, mãe de quatro filhos de pais diferentes, à espera de um quinto.

Disse “Cannes duvidoso” porque a atriz não mostra nada de extraordinário. Sua personagem é comum, pobre, como tantas nesta terra. Precisaria de muito para desbancar atrizes como Angelina Jolie, que concorria por sua atuação no novo longa de Clint Eastwood, e Julianne Moore, protagonista de Ensaio sobre a cegueira, de Fernando Meirelles. Vai entender.

João Baldasserini é Dênis, o mais velho. O jovem trabalha como motoboy, tem um filho, é mulherengo e toma uma decisão bem arriscada para tentar sustentar a família. Vinícius de Oliveira – aquele do também chato Central do Brasil – é Dario, que sonha em ser jogador de futebol e convive com o medo de passar do ponto, já que acabara de completar 18 anos.

O terceiro filho é o evangélico Dinho, interpretado por José Geraldo Rodrigues. O moço tenta bancar o certinho o filme inteiro e protagoniza a cena – única – mais impressionante do filme. O último é o sensacional Kaique Jesus Santos, na pele do divertido Reginaldo. Está nele o motivo para assistir a Linha de Passe até o fim – porque eu já queria sair no meio. O menino é bronco, implicante, engraçado, respondão, autoritário, fofo. Kaique interpretou como gente grande e fez os outros atores medianos simplesmente sumirem.

Gosto é uma coisa engraçada. Acho que sou a primeira a falar mal do novo longa dos “badaladíssimos” Walter Salles e Daniela Thomas. Talvez falte coragem a tantos outros críticos para parar de bajular grandes nomes e olhar com mais carinho a filmes B, que são feitos com muito mais dedicação, mesmo com um orçamento vergonhoso, como Estômago, de Marcos Jorge.

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