quarta-feira, 26 de março de 2008

A Bossa Nova e suas informalidades

Grupo de amigos se encontra há 5 anos para tocar o que a Bossa oferece de melhor

Enquanto Mauro Senise e Alberto Chimelli falam sobre o início do Bossa Jazz Trio e suas influências, entre um café e outro, Paulo Russo, de fundo, traça a trilha sonora da entrevista em seu contrabaixo.

Descontraídos, a dupla define seu trabalho como um encontro informal.

Nós somos um trio que não tem líder. Estamos juntos há cinco anos, quando começamos a tocar aqui. Primeiro veio o Paulo Russo, que é contrabaixista, e o pianista Dario Galante. Depois o Dario saiu e eu e o Alberto entramos, explica o saxofonista e flautista Mauro Senise.

A única preocupação do Bossa Trio Jazz, para Senise, é a emoção, o prazer de estar entre amigos.

A gente não tem grandes arranjos, mas tem uma harmonia. Cada dia é um desafio. Essa é a nossa hora bacana de criar. Nossa preocupação é com a emoção, é o acorde estar direito, o prazer que isto traz pra gente. A gente procura se divertir, mas com a maior seriedade.

Cada um tem seu trabalho, sua trajetória. O pianista Alberto Chimelli, por exemplo, conta que aprendeu a tocar bem cedo, com sua mãe, que também era pianista. Aos 12 anos já admirava Leny Andrade e Baden Powell.

Na época havia um material muito farto para se tocar. Tive muito contato com a música e fui influenciado por grandes músicos, como Tom Jobim e Marcos Valle. Eram os nomes que mais admirava. O Tenório Júnior era um pianista maravilhoso e me ajudou muito. Eu era estudante e tentava assimilar os acordes e pegar o jeito da Bossa. E aí parti para a música criativa, para o Jazz, que não é um estilo propriamente dito, é uma maneira de tocar. E então houve uma fusão com a Bossa e é a musica que fazemos aqui. São músicos de primeiro nível, como o Mauro e o Paulo, que sempre foram meus ídolos. É muito confortável para mim tocar com músicos desse nível. É tudo muito feito de improviso, mas há uma cooperação mútua, nos entrosamos pelo olhar.

A história de Paulo Russo também não é muito diferente. O contrabaixista, antes de completar a maioridade, entrava escondido no famoso “Beco das Garrafas”, em Copacabana – RJ, considerado, no início dos anos 1960, o “Templo da Bossa Nova” e abrigava o melhor do instrumental.

Eu assistia a grandes nomes da música que depois eu até vim a regravar e tocar junto, como Raul de Souza, Edison Machado e Luiz Eça, que foi quem mais me inspirou, lembra Paulo.

É no mínimo curioso perceber tanta riqueza cultural numa época em que a internet era um sonho distante e hoje, quando tudo parece ser mais fácil, mais acessível, não ter um movimento tão grandioso como a Bossa Nova.

A música brasileira sempre fez muito sucesso no exterior. Grandes nomes da Bossa, por exemplo, como Baden Powell e Hermeto Pascoal são venerados lá fora. Existem, inclusive, lojas especializadas em MPB. Já no Brasil o cenário é outro.

Acho que a mídia é a grande culpada por isso. Ela que decide quem fará sucesso. É claro que a ditadura contribuiu para o sumiço de alguns artistas, como um amigo meu, o Tenório Junior, grande pianista que foi fazer show na Argentina e nunca mais voltou. Mas ela não foi a grande culpada, comenta.

O músico conta como foi seu encontro com os outros dois.

Eu toco com o Mauro há 20 anos, temos uma afinidade muito grande. Aí descobrimos esse espaço na Modern Sound e toda quinta-feira a gente toca aqui, há cinco anos. Agora estamos pensando em gravar um CD do Trio, adianta.

Escutar um grupo dizer que toca no improviso pode soar esquisito. Quem não conhece pode lançar um olhar desconfiado, de início, sobre os três. Mas a verdade é que Mauro Senise, Alberto Chimelli e Paulo Russo não começaram ontem. Muito menos anteontem!

Os três estão, sem sombra de dúvidas, entre os maiores instrumentistas do mundo. Todos são muito bem conceituados no Brasil e no exterior, têm os melhores prêmios da música instrumental, além de parcerias preciosas, como Paulo Moura, Victor Assis Brasil e Vinícius de Moraes.

E sua apresentação impressiona. Os três tocam seus respectivos instrumentos com uma afinidade no mínimo interessante, com uma leveza e segurança incontestáveis.

O repertório é enriquecido por clássicos como Alone Together (Deutz / Schwatz), Stella by Starlight (Washington /Young), On Green Dolphin Street (Kaper / Washington) e My Favorite Things (Hammers), e muitos outros.

Quem quiser conferir de perto o trabalho do Bossa Trio Jazz basta reservar uma quinta-feira, a partir das 17h, para ir à Modern Sound, que fica na Av. Barata Ribeiro, 502, Copacabana.

Difundindo a música pelo Brasil

Mônica salmaso e Seu Luís Paixão, no Projeto Pixinguinha
Projeto Pixinguinha comemora 30 anos levando arte aos quatro cantos do país

A música brasileira precisa ser mais difundida. E foi sob esse propósito que o Projeto Pixinguinha nasceu, há 30 anos. O evento já projetou artistas consagrados, como Ivan Lins, Djavan e Zé Ramalho e, até hoje, leva cultura a lugares de difícil acesso.

Em 1977, o compositor, poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho (63) coordenava o projeto cultural Seis e Meia, do também produtor cultural Albino Pinheiro. O projeto leva este nome porque Albino aproveitava o horário das 18h30min nos teatros para promover shows de MPB a preços populares ou de graça.

Hermínio decidiu então criar o projeto Pixinguinha, onde artistas famosos e desconhecidos são divididos em caravanas, que percorrem os quatro cantos deste país. A primeira aventura teve a presença de João Bosco e Clementina de Jesus, Ivan Lins e Nana Caymmi, Simone e Suely Costa, Paulinho da Viola e Canhoto da Paraíba, Nara Leão, Camerata Carioca e Radamés Gnattali e Edu Lobo e Boca Livre.

O Pixinguinha é um projeto com políticas bem definidas de formação de novas platéias, de apoio à área de produção cultural e também uma forma de fazer o povo conhecer um artista de pouca visibilidade pública ao lado de outro mais conhecido, explica Hermínio ao Cultura Etc.

O cantor Ivan Lins foi o primeiro artista a se apresentar no Projeto Pixinguinha e, após 30 anos, volta aos palcos encerra a edição de aniversário do maior programa de circulação de música do Brasil.

Desde que o Pixinguinha foi criado, as rádios ficaram mais comerciais. Antes, a importância do Projeto era a de levar ao público, a preços populares, artistas que tocavam no rádio. Hoje, ele dá a muitos a oportunidade de ouvir artistas como o André pela primeira vez. Para mim, é uma grande honra encerrar esse ciclo, depois de 30 anos, num projeto que abriu muitas portas para mim, declara Ivan.

Neste ano 128 espetáculos viajaram por 17 cidades brasileiras, em 16 caravanas, a preços populares ou com entrada franca. Mais de 40 mil pessoas assistiram a Zé Renato, João Bosco, Geraldo Azevedo e outros grandes nomes que se apresentaram ao lado de talentos da nova geração, como Arthur Faria e seu Conjunto e PianOrquestra.

Em seu quinto disco, o grupo Arthur de Faria e seu conjunto fez sua carreira pelo Sul do país, passando pela Argentina, Uruguai e São Paulo.

O conjunto é bem eclético. Ele mistura ritmos como polca, valsa, tango, candango, e assim vai. Arthur de Faria e seu conjunto viajou com a Caravana 10, ao lado de Cida Moreira, por Brasília, Rio Branco, Belém, Cuiabá e Rio de Janeiro.

Porto Alegre tem muito dessa coisa misturada, muitas culturas diferentes. A gente é uma região de fronteira, então a música que a gente faz é bem fronteirista e eu gosto disso, explica Arthur ao Cultura Etc. O projeto Pixinguinha é sensacional. Primeiro porque muitos artistas que eu ouço hoje eu conheci neste projeto, como Luis Melodia, o Macalé (Jards), e tem a oportunidade de conhecer outros lugares e perceber como esse Brasil ferve, completa.

Quem quiser saber mais sobre o grupo basta entrar no site www.seuconjunto.com.br.

Quem também impressionou o público neste ano foi o PianOrquestra. Trata-se de um conjunto que usa 10 mãos e um piano preparado. É isso mesmo. São quatro pianistas e um percussionista fazendo do piano uma orquestra de sonoridades.

A gente fez um trabalho de muita pesquisa sonora, inclusive exploramos a parte debaixo do piano, usando as madeiras para as percussões, e a parte de dentro da caixa do piano, usando as técnicas de piano preparadas, explica o pianista e compositor Cláudio Dauelsberg ao Cultura Etc.

O grupo usa ainda borracha, madeira e metal, que reproduzem sons de cavaquinhos, de contra-baixo, de percussões, sininhos e outros.

O PianOrquestra tocou ao lado de João Bosco, na Caravana 7. Eles viajaram por Vitória, Florianópolis, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

O Pixinguinha foi muito bom para o Pianorquestra, pois foi uma troca muito enriquecedora com o João Bosco e seus músicos, essa interação com as músicas dele foi muito boa, comemora Cláudio.

Saiba mais sobre o PianOrquestra no site www.pianorquestra.com.br.

A cantora Mônica Salmaso, dona de umas das vozes mais belas do país, resumiu bem o que seria o Projeto. Ela fez parte da Caravana 14, ao lado de Seu Luiz Paixão, e viajou por Rio Branco, Belém, Cuiabá e Brasília.

O projeto Pixinguinha é o projeto mais importante e o que mais abrange um número de pessoas e um número maior de lugar, pois ele viabiliza a viagem pelo Brasil de nós, artistas, pois o país é grande demais e para nós é complicado viajar para certos lugares se não tivermos apoio. Tem muitas regiões que não conseguimos chegar por ser distante demais, então o projeto Pixinguinha promove, em primeiro lugar, o encontro entre artistas, que se conhecem nesses espetáculos, e depois a possibilidade de esses artistas mostrarem o trabalho deles fora do lugar onde eles vivem, onde mais trabalham.

O Pixinguinha foi interrompido nos anos 90 e retomado pela Funarte em 2004, desde então com o patrocínio da Petrobras.

De acordo com Hermínio, o projeto se desestruturou no Governo Collor, quando o Ministério da Cultura foi eliminado. Mesmo com sua saída, ficou difícil retomar o projeto.

Na comemoração de seus 30 anos, Hermínio Bello de Carvalho foi convidado para ser o curador e sugeriu que os espetáculos fossem filmados para que façam parte da memória da música brasileira.

Abdiquei do direito de escolha dos artistas convidados e propus que, como já se fez na década de 80, gravássemos os espetáculos para colocá-los na grade de programação da Rede Brasil. Sabe-se que sempre lutei pela preservação da memória, e acho que ela não sobrevive sem registro e documentação, explica Hermínio.

Após o show de encerramento, o jornalista Sergio Cabral lançou uma biografia sobre Pixinguinha. Escrita há 30 anos, Pixinguinha – vida e obra, foi reeditada pela Fundação Nacional de Artes. O jornalista Jota Efegê também lançou coletâneas de crônicas, reeditadas pela Funarte.

As reedições da Funarte foram sugeridas por Hermínio Bello de Carvalho para completar as comemorações dos 30 anos do Projeto Pixinguinha. A biografia sobre Pixinguinha venceu o primeiro concurso de monografias promovido pela Funarte e impulsionou a carreira de pesquisador musical de Sérgio Cabral. O livro narra toda sua trajetória de sucesso.

De Jota Efegê, foram reeditadas quatro coletâneas, reunindo 525 crônicas: os dois volumes de Figuras e coisas da música popular brasileira, além de figuras e coisas do carnaval carioca e de Meninos, eu vi.

Saiba mais sobre o Projeto Pixinguinha pelo site http://www.funarte.gov.br/.

Bossa Nova 50 anos

Carlos Lyra e Fernanda Takai
O estilo que mudou o cenário musical do país prova que resiste a todos os tempos.

A Bossa Nova está completando 50 anos neste ano e, para comemorar, grandes nomes da música brasileira se encontraram em um show inesquecível nas areias de Ipanema, no dia 1º de março, no Rio de Janeiro.



Quem esteve presente pôde relembrar músicas marcantes, como Chega de Saudade (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), na voz de Emílio Santiago, Barquinho (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli), na voz de Fernanda Takai, além de novas composições, como Aonde a Coruja Dorme, de João Donato e Joyce, interpretada pelos próprios.

Não se sabe qual foi o momento exato que surgiu a Bossa Nova, mas sua estréia é contada a partir do ano de 1958, quando Elizeth Cardoso lança o disco Canção do Amor Demais. Na obra, ela interpreta composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. No mesmo ano, Chega de Saudade - 78 rpm chega às lojas com o clássico de Tom e Vinicius, que leva o mesmo nome do disco, e Bim-bom, de João Gilberto, com sua inovadora batida de violão.

Muitos são os pais da Bossa Nova. Há algumas versões para quem a inventou, como a que o cantor e compositor Carlos Lyra deu para o Cultura Etc.

Não existem pais da Bossa Nova, nem ela nasceu na casa da Nara Leão nem em lugar nenhum que não fosse na zona Sul do Rio de Janeiro, precisamente em Copacabana. Então seus pais são um monte de gente que foi atingida pela necessidade de fazer uma música nova.


O cantor, instrumentista e arranjador João Donato completa.

Os jovens se reuniram por casualidade ou por coincidência. Nós nos admirávamos mutuamente, como João Gilberto, Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Bôscoli, Roberto Menescal, Johnny Alf, Nara Leão etc. Copacabana era o centro dos acontecimentos noturnos no Brasil e fervia naquela época. Todos tocavam ao vivo, faziam muitos shows. Cantores internacionais vinham muito se apresentar e Copacabana era a capital do divertimento no Rio de Janeiro. Acabou que muitos lugares trabalhavam com músicas populares, comerciais, para faturar mais. Então preferimos ir a locais menos freqüentados, onde as músicas eram menos populares, como o Hotel Plaza. Lá tocavam Durval Ferreira, João Gilberto, Roberto Carlos, Elza Soares. Nem profissionais éramos ainda. E o movimento da Bossa Nova surgiu assim.

O país vivia seus melhores dias. Não é à toa que os anos cinqüenta são conhecidos como "anos dourados".

Em 1956, o Brasil conhecia seu mais novo presidente, o mineiro Juscelino Kubitschek, que promete desenvolver 50 anos de Brasil em 5. A economia estava a todo vapor, assim como a literatura, o cinema, o teatro, os esportes e assim vai.

Já em 1960, Brasília é inaugurada como a capital do país. Mais promessas de desenvolvimento à vista!

Existe, inclusive, uma história de que desse momento saiu a primeira música de Bossa Nova em homenagem a Juscelino. O cantor e compositor Billy Blanco havia feito um sambinha, chamado Não Vou, Não Vou Pra Brasília, e Chico Feitosa musicou uma letra que falava da vida na nova cidade, chamada Paranoá. E assim a Bossa Nova foi criando forma.

De 60 até 63 tínhamos a promessa de que o Brasil ia ser o país mais importante do mundo. Estávamos caminhando para ser o primeiro mundo. Tudo funcionava. Nós éramos campeões de futebol, de basquete, tínhamos a miss Universo (Ieda Maria Vargas) éramos campeões de boxe, com Eder Jofre, de tênis, com a Maria Ester Bueno, de literatura, de arquitetura, de tudo! E quando estávamos prontos, veio o golpe e acabou o Brasil daquela época e até hoje não se levantou, lamenta Carlos Lyra.

Realmente a ditadura mudou todo o rumo cultural do país. Mas quem pensa que só houve coisas ruins, engana-se.

Devido a todo o momento de tensão que o país vivia, os compositores passaram a escrever sobre política. Se antes os temas eram basicamente amor, após o golpe, intelectuais, não só da música, se uniram para usar seus instrumentos de trabalho, isto é, as palavras, para protestar contra o sistema político vigente.

Como artistas, entendemos que, dado à falta de liberdade de imprensa cada vez maior, teríamos que tentar burlar a censura e dizer umas coisas que o povo precisava ouvir. Então a gente passou a se reunir muito com cineastas, com o pessoal do teatro, todos ligados às artes pra saber o que podia ser feito para acabar com a ditadura, conta, para o Cultura Etc., o cantor e compositor Marcos Valle. Por pior que fosse a ditadura aquilo nos estimulava a querer fazer coisas. A gente queria lutar, a gente queria dizer. Então a gente criava frases que eles não iam entender, com duplo sentido, completa.

Há quem acredite que a Bossa Nova perdeu seu encanto, que é coisa dos mais velhos. A verdade é que o cenário cultural é outro. Hoje existem as grandes gravadoras, que fazem da música um grande comércio. Há, sim, hoje, uma dificuldade maior de gravar, de fazer shows, mas não são motivos para "matar" a Bossa Nova.

Acho que a Bossa Nova cada dia encontra mais seu encanto. É lógico que tem a Bossa tradicional, e que continua tendo o mesmo encanto, como João Gilberto, que sempre mantém a mesma linha. Mas também existe Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, e eu, que fazemos coisas mais novas, modernas. A Bossa tem uma sofisticação que permite que misture outras coisas e continua criando coisas novas. Tem uma gente nova muito boa, como Celso Fonseca, Bossacucanova e Fernanda Takai. Então existe um novo interesse na Bossa Nova. A gente mantém o que tinha, os temas são gravados e regravados e ao mesmo tempo estão surgindo músicas e show novos. Agora então, com os 50 anos da Bossa Nova, eu acho que é a nossa grande consagração, comenta um Marcos Valle animado.

O fato é que a Bossa Nova é venerada na Europa, no Japão e nos EUA. Existem lojas especializadas nesse estilo. Aliás, a música brasileira, em geral, é muito valorizada lá fora.

O que acontece é que estamos acostumados a viver de modismos aqui. Há muita coisa boa espalhada pelo país, mas, para fazer sucesso, vai depender, muitas vezes, de grandes gravadoras e empresários. Eles vão decidir o que vai vender ou não.

O Brasil deixou que as grandes gravadoras tomassem conta de uma coisa muito importante, que é a parte de produção cultural. Se o Brasil produzir as coisas direitinho, tomamos conta da música do mundo, declara Hamilton de Godoy, da banda Zimbo Trio.

Mas a Bossa resiste e a prova disto foi esse show realizado no dia 1º de março, em Ipanema. Marcada no dia do aniversário do Rio de Janeiro, a festa promoveu o encontro entre aqueles que acompanharam o seu nascimento e os mais novos, como a vocalista da banda Pato Fu, Fernanda Takai, e a banda Bossacucanova, que mistura a Bossa com música eletrônica.

A atriz e cantora Thalma de Freitas e o produtor Mièle contaram passo a passo os momentos importantes da Bossa Nova, como a peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, passando pelo apartamento de Nara Leão, pelo Beco das Garrafas até os trabalhos mais recentes.

O diretor musical do espetáculo, Roberto Menescal, falou sobre o evento.

Esse é um momento muito especial porque faz a gente pensar um pouco que valeu tudo o que a gente fez. Completamos 50 anos não de uma coisa passada, mas de algo que está vivo até hoje.

O show contou com a presença de Bossacucanova, Carlos Lyra, Emilio Santiago, Fernanda Takai, João Donato, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Marcos Valle, Oscar Castro Neves, Roberto Menescal, Wanda Sá e Zimbo Trio.

terça-feira, 25 de março de 2008

Luiza Possi alcança sua maturidade

Existem algumas características essenciais que um músico deve ter para cair nas graças do público. Qualidades como uma boa voz, é claro, presença de palco e bom humor. Coisas que Luiza Possi tem de sobra.

Com 23 anos e quatro CDs lançados, Luiza distribui beleza e simpatia em seu mais novo show, “A vida é mesmo agora”.

Dona de um sorriso sapeca e uma voz suave e encantadoramente afinada, a filha de Zizi Possi deixou para trás aquele estilo pop e comercial, que acaba viciando cantores e bandas em início de carreira, e está
completamente madura, cantando um rico repertório cuidadosamente escolhido por ela.

Em um bate-papo muito descontraído com o Culturaetc., a moça falou um pouco sobre sua trajetória.

Culturaetc: Luiza, conta como você decidiu viver de música.

Luiza Possi: Aos 15 anos eu fui convidada por uma banda para participar de um concurso onde havia umas 500 bandas, no Credicard Hall, em SP. A gente ganhou e o prêmio era abrir um show do Skank. A partir daquele momento eu decidi o que queria fazer.

Culturaetc: Mas você já tinha uma banda ou foi a primeira vez?

Luiza Possi: Tinha, mas ela não passou neste concurso. Os caras dessa outra banda que me viram, gostaram e me convidaram. Eu entrei no palco segura, tranqüila, com 11 mil pessoas na platéia e vi que era aquilo ali que eu queria. Mas depois disso passei por muita dificuldade. As coisas não são tão fáceis só porque eu sou filha da minha mãe, muito pelo contrário.

Culturaetc: Você acha que tem pouco espaço na mídia, até por causa da sua mãe?

LP: Não, pelo contrário. Eu acho que tenho muito espaço na mídia, pois vou muito ao Faustão, vou ao Altas Horas, tenho crítica em todos os lugares... Mas realmente eu não aproveito a minha mãe nem acho isso saudável. Até porque nunca a deixei participar de nada, mas agora vou deixar.

Culturaetc.: E por que você não queria a participação da sua mãe no começo?

LP: Eu precisava me descobrir e saber até onde eu ia sem ela. É claro que ela tem muito a me ensinar, mas eu precisava me conhecer antes.

Culturaetc.: Você começou com um estilo pop, um pouco comercial, e hoje está mais livre, cantando MPB, fazendo algo mais trabalhado. Como foi essa transição?

LP: Foi difícil, como pra qualquer adolescente. Quando eu me lancei eu cantava em bandas, fazia cover. Quando eu fui convidada a gravar um disco eu não sabia o que queria cantar e acabei cantando um monte de música brega (risos). Fazer o quê? Cai na mão de um produtor popular, que queria que eu fizesse coisa popular e ai foi isso.

Culturaetc.: E quando você se viu com um CD na mão?

LP: Quando lancei o disco vi o tamanho da encrenca, da proporção e pensei “não é isso o que eu quero fazer. Quero descobrir a minha musicalidade”. Aí comecei a compor e entender mais o que queria fazer e buscar mais compositores que eu gostava, como Zeca Baleiro e Frejat, que fizeram parte do meu segundo disco.

Culturaetc.: E foi por isso que você demorou quase três anos para lançar seu terceiro CD, o “Escuta”?

LP: Sim. Tive muito tempo para pensar, compor e ver que queria outra coisa e preparar um CD independente de qualquer gravadora e qualquer pessoa que pudesse mandar em mim. Ai comecei a tomar conta da minha carreira artisticamente falando. E hoje o que está aí é o resultado desta prática.

Culturaetc.: Entre os compositores que você canta, tem algum de sua preferência?

LP: Hoje eu posso dizer que tenho um repertório redondo. Tudo o que eu canto é o que eu quero cantar. Todo mundo que está aí é porque tem que estar. O Dudu Falcão, por exemplo, é um compositor que compõe comigo. Estou muito próxima dele ultimamente. Ele fez “Pedra de Areia”, que eu também canto, que é dele e do Lenine, tem Chico Buarque, que eu amo e que eu canto à beça, e Moska, que tem 20 mil músicas dele no meu repertório... Um dia vou fazer um disco “Luiza canta Moska” (risos).

Culturaetc.: E que história é essa de você virar atriz?

LP: Eu fui à festa de estréia da novela do Walter Negrão, “Desejo Proibido” (na qual atua seu marido, o ator Pedro Neschling) e uma produtora comentou que ele fez uma novela onde tinha uma personagem que era cantora de bolero e aí, na época, pensaram em mim, mas acabou que o projeto não foi pra frente. E aí falaram que, se fosse, eu seria a protagonista e eu estou deixando rolar...

Culturaetc.: Como é conciliar sua vida pessoal com o trabalho? Já pensou em cancelar shows devido ao cansaço?

LP: Nada! Estou aí pra trabalhar... Tenho que trabalhar, rodar o Brasil e o mundo inteiro. Agora que as coisas estão acontecendo! Eu vou sair desse eixo Rio – São Paulo, onde as coisas são mais fáceis para acontecer, e vou para o Nordeste, Sul, Centro-Oeste, Japão, America Latina... Não tem essa de cancelar show. Quando tem um eu dou graças a Deus. É uma luta. Você não tem idéia do que é. Quantos anos eu já passei em casa sem fazer um show! Eu aparecia em boate só pra poder cantar... Eu dou muito valor. É muito difícil esse mundo...

Culturaetc.: E o que você faz além da música?

LP: Eu faço balé, malho, estudo piano, cuido das minhas plantas, da minha casa... É muito difícil cuidar de casa. Sempre morei com minha mãe. Então saí há dois anos e meio, quando eu e Pedro nos juntamos e arrumamos uma casa pra gente.

Culturaetc.: Você acabou de lançar o CD e DVD “A vida é mesmo agora”, mas já pensa em outro trabalho?

LP: Sim. Essa coisa de compor é muito louca. Já tem algumas músicas ai e dá vontade de fazer um disco novo, claro. Estou sempre buscando mais.

Os Miquinhos estão de volta!



Oito amigos resolvem se encontrar por acaso e fazer shows por acaso. De repente, eles já estão com um disco nas lojas e com sucesso tocando nas rádios, e nada mais é simplesmente por acaso...

Essa é a história de João Penca e seus Miquinhos Amestrados que, depois de 14 anos parados, resolveram se encontrar e fazer um show pra lá de irreverente no Rio de Janeiro, neste mês de março.

E humor é o que não falta para este grupo, que hoje está reduzido em três. Bob Gallo, Avelar Love e Selvagem Big Abreu parecem os mesmos garotões que emplacaram com Telma, Eu Não Sou Gay e Pop Star. Eles brincam o tempo todo, correm de um lado para o outro, trocam de roupa e não deixam ninguém ficar parado.

Mas é bom que fique claro: tudo pode parecer uma brincadeira despretensiosa, um festival de besteirol, mas João Penca e seus Miquinhos Amestrados deixa muita bandinha de garotões no chão. Eles continuam bem afinados e com um som pra ninguém colocar defeito.

O João Penca se formou em 1972, através da iniciativa de oito amigos: Bob Gallo (voz), Avelar Love (voz), Léo Jaime (voz), Selvagem Big Abreu (guitarra, violão e voz), Cláudio Killer (teclados e voz), Del Rosa (baixo e voz), Guilherme Hullygully (guitarra e violão) e Mimi Erótico (bateria).

Quando o primeiro disco da banda saiu, em 1983, o grupo já não contava com Leo Jaime, que partiu para carreira solo. Mas isso não impediu que “Os Maiores Sucessos de João Penca & Seus Miquinhos Amestrados” fizesse sucesso.

Porém, neste mesmo ano, a banda perderia mais um componente, o tecladista Cláudio Killer, que falecera em um acidente de carro.

Em uma conversa animada, o trio falou sobre essas perdas, seus sucessos, sua volta e seus planos.

E eles estavam tão empolgados que, na primeira pergunta, quando indagados sobre a escolha do nome, eles perguntam “isso é sério ou é brincadeira?”.

Após os risos, Bob Gallo explica.

Quando a gente era mais novo a gente era fã de bandas que sempre tinham o nome de “algum cara e alguma porcaria.”. Um dia, algum louco, que ninguém sabe quem foi, deu esse nome, do nada.

E Avelar Love completa.

A gente achou esse nome tão absurdo que resolveu adotar. E isso foi no verão de 1982.

No ano de 1986, quando lançaram seu segundo trabalho, “OK My Gay”, o João Penca já era um trio.


A galera fazia aquilo de brincadeira. Cada um tinha seu compromisso com escola, pais, etc. Então, quando a coisa começou a ficar séria, quatro pularam fora de uma vez só, exlica Bob.

Nossa pretensão não era fazer sucesso, ganhar dinheiro nem nada, era ganhar mulher mesmo. Então fizemos tudo de forma despretensiosa. Tínhamos nossas metas de carreira – somos engenheiros – e a música foi uma forma de se dar bem com as mulheres, explica o sincero Avelar, que jura não ter tido tanta sorte como imaginava.

E parece que, até hoje, o trio continua com a idéia de se divertir.

A gente continua se divertindo, despretensiosamente, como a gente gosta de fazer, com amigos que se conhecem há 30 anos, explica Bob Gallo.

Deixando um pouco o humor de lado, o João Penca deu uma analisada no cenário cultural e falou um pouco sobre o futuro.

Há um bom tempo que não há um movimento genuíno cultural. Há meio que um vazio. Mas o mercado está mudando muito por causa da internet. As gravadoras não são mais donas do mercado, comenta Avelar.

E as coisas estão mais democráticas. Cada vez mais fica fácil para as pessoas colocarem seus trabalhos na internet. É um momento de mudança. A produção de massa passa a ser uma produção segmentada, completa Bob.

Mas o público está mesmo é ansioso para saber quando sai um DVD da banda.

A gente está sem pretensão, está sendo muito bom não estar com uma coisa determinada, de que tem que fazer DVD. A gente está tocando, melhorando e uma hora vai rolar, adianta Bob.