quarta-feira, 26 de março de 2008

A Bossa Nova e suas informalidades

Grupo de amigos se encontra há 5 anos para tocar o que a Bossa oferece de melhor

Enquanto Mauro Senise e Alberto Chimelli falam sobre o início do Bossa Jazz Trio e suas influências, entre um café e outro, Paulo Russo, de fundo, traça a trilha sonora da entrevista em seu contrabaixo.

Descontraídos, a dupla define seu trabalho como um encontro informal.

Nós somos um trio que não tem líder. Estamos juntos há cinco anos, quando começamos a tocar aqui. Primeiro veio o Paulo Russo, que é contrabaixista, e o pianista Dario Galante. Depois o Dario saiu e eu e o Alberto entramos, explica o saxofonista e flautista Mauro Senise.

A única preocupação do Bossa Trio Jazz, para Senise, é a emoção, o prazer de estar entre amigos.

A gente não tem grandes arranjos, mas tem uma harmonia. Cada dia é um desafio. Essa é a nossa hora bacana de criar. Nossa preocupação é com a emoção, é o acorde estar direito, o prazer que isto traz pra gente. A gente procura se divertir, mas com a maior seriedade.

Cada um tem seu trabalho, sua trajetória. O pianista Alberto Chimelli, por exemplo, conta que aprendeu a tocar bem cedo, com sua mãe, que também era pianista. Aos 12 anos já admirava Leny Andrade e Baden Powell.

Na época havia um material muito farto para se tocar. Tive muito contato com a música e fui influenciado por grandes músicos, como Tom Jobim e Marcos Valle. Eram os nomes que mais admirava. O Tenório Júnior era um pianista maravilhoso e me ajudou muito. Eu era estudante e tentava assimilar os acordes e pegar o jeito da Bossa. E aí parti para a música criativa, para o Jazz, que não é um estilo propriamente dito, é uma maneira de tocar. E então houve uma fusão com a Bossa e é a musica que fazemos aqui. São músicos de primeiro nível, como o Mauro e o Paulo, que sempre foram meus ídolos. É muito confortável para mim tocar com músicos desse nível. É tudo muito feito de improviso, mas há uma cooperação mútua, nos entrosamos pelo olhar.

A história de Paulo Russo também não é muito diferente. O contrabaixista, antes de completar a maioridade, entrava escondido no famoso “Beco das Garrafas”, em Copacabana – RJ, considerado, no início dos anos 1960, o “Templo da Bossa Nova” e abrigava o melhor do instrumental.

Eu assistia a grandes nomes da música que depois eu até vim a regravar e tocar junto, como Raul de Souza, Edison Machado e Luiz Eça, que foi quem mais me inspirou, lembra Paulo.

É no mínimo curioso perceber tanta riqueza cultural numa época em que a internet era um sonho distante e hoje, quando tudo parece ser mais fácil, mais acessível, não ter um movimento tão grandioso como a Bossa Nova.

A música brasileira sempre fez muito sucesso no exterior. Grandes nomes da Bossa, por exemplo, como Baden Powell e Hermeto Pascoal são venerados lá fora. Existem, inclusive, lojas especializadas em MPB. Já no Brasil o cenário é outro.

Acho que a mídia é a grande culpada por isso. Ela que decide quem fará sucesso. É claro que a ditadura contribuiu para o sumiço de alguns artistas, como um amigo meu, o Tenório Junior, grande pianista que foi fazer show na Argentina e nunca mais voltou. Mas ela não foi a grande culpada, comenta.

O músico conta como foi seu encontro com os outros dois.

Eu toco com o Mauro há 20 anos, temos uma afinidade muito grande. Aí descobrimos esse espaço na Modern Sound e toda quinta-feira a gente toca aqui, há cinco anos. Agora estamos pensando em gravar um CD do Trio, adianta.

Escutar um grupo dizer que toca no improviso pode soar esquisito. Quem não conhece pode lançar um olhar desconfiado, de início, sobre os três. Mas a verdade é que Mauro Senise, Alberto Chimelli e Paulo Russo não começaram ontem. Muito menos anteontem!

Os três estão, sem sombra de dúvidas, entre os maiores instrumentistas do mundo. Todos são muito bem conceituados no Brasil e no exterior, têm os melhores prêmios da música instrumental, além de parcerias preciosas, como Paulo Moura, Victor Assis Brasil e Vinícius de Moraes.

E sua apresentação impressiona. Os três tocam seus respectivos instrumentos com uma afinidade no mínimo interessante, com uma leveza e segurança incontestáveis.

O repertório é enriquecido por clássicos como Alone Together (Deutz / Schwatz), Stella by Starlight (Washington /Young), On Green Dolphin Street (Kaper / Washington) e My Favorite Things (Hammers), e muitos outros.

Quem quiser conferir de perto o trabalho do Bossa Trio Jazz basta reservar uma quinta-feira, a partir das 17h, para ir à Modern Sound, que fica na Av. Barata Ribeiro, 502, Copacabana.

Nenhum comentário: