quarta-feira, 26 de março de 2008

Difundindo a música pelo Brasil

Mônica salmaso e Seu Luís Paixão, no Projeto Pixinguinha
Projeto Pixinguinha comemora 30 anos levando arte aos quatro cantos do país

A música brasileira precisa ser mais difundida. E foi sob esse propósito que o Projeto Pixinguinha nasceu, há 30 anos. O evento já projetou artistas consagrados, como Ivan Lins, Djavan e Zé Ramalho e, até hoje, leva cultura a lugares de difícil acesso.

Em 1977, o compositor, poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho (63) coordenava o projeto cultural Seis e Meia, do também produtor cultural Albino Pinheiro. O projeto leva este nome porque Albino aproveitava o horário das 18h30min nos teatros para promover shows de MPB a preços populares ou de graça.

Hermínio decidiu então criar o projeto Pixinguinha, onde artistas famosos e desconhecidos são divididos em caravanas, que percorrem os quatro cantos deste país. A primeira aventura teve a presença de João Bosco e Clementina de Jesus, Ivan Lins e Nana Caymmi, Simone e Suely Costa, Paulinho da Viola e Canhoto da Paraíba, Nara Leão, Camerata Carioca e Radamés Gnattali e Edu Lobo e Boca Livre.

O Pixinguinha é um projeto com políticas bem definidas de formação de novas platéias, de apoio à área de produção cultural e também uma forma de fazer o povo conhecer um artista de pouca visibilidade pública ao lado de outro mais conhecido, explica Hermínio ao Cultura Etc.

O cantor Ivan Lins foi o primeiro artista a se apresentar no Projeto Pixinguinha e, após 30 anos, volta aos palcos encerra a edição de aniversário do maior programa de circulação de música do Brasil.

Desde que o Pixinguinha foi criado, as rádios ficaram mais comerciais. Antes, a importância do Projeto era a de levar ao público, a preços populares, artistas que tocavam no rádio. Hoje, ele dá a muitos a oportunidade de ouvir artistas como o André pela primeira vez. Para mim, é uma grande honra encerrar esse ciclo, depois de 30 anos, num projeto que abriu muitas portas para mim, declara Ivan.

Neste ano 128 espetáculos viajaram por 17 cidades brasileiras, em 16 caravanas, a preços populares ou com entrada franca. Mais de 40 mil pessoas assistiram a Zé Renato, João Bosco, Geraldo Azevedo e outros grandes nomes que se apresentaram ao lado de talentos da nova geração, como Arthur Faria e seu Conjunto e PianOrquestra.

Em seu quinto disco, o grupo Arthur de Faria e seu conjunto fez sua carreira pelo Sul do país, passando pela Argentina, Uruguai e São Paulo.

O conjunto é bem eclético. Ele mistura ritmos como polca, valsa, tango, candango, e assim vai. Arthur de Faria e seu conjunto viajou com a Caravana 10, ao lado de Cida Moreira, por Brasília, Rio Branco, Belém, Cuiabá e Rio de Janeiro.

Porto Alegre tem muito dessa coisa misturada, muitas culturas diferentes. A gente é uma região de fronteira, então a música que a gente faz é bem fronteirista e eu gosto disso, explica Arthur ao Cultura Etc. O projeto Pixinguinha é sensacional. Primeiro porque muitos artistas que eu ouço hoje eu conheci neste projeto, como Luis Melodia, o Macalé (Jards), e tem a oportunidade de conhecer outros lugares e perceber como esse Brasil ferve, completa.

Quem quiser saber mais sobre o grupo basta entrar no site www.seuconjunto.com.br.

Quem também impressionou o público neste ano foi o PianOrquestra. Trata-se de um conjunto que usa 10 mãos e um piano preparado. É isso mesmo. São quatro pianistas e um percussionista fazendo do piano uma orquestra de sonoridades.

A gente fez um trabalho de muita pesquisa sonora, inclusive exploramos a parte debaixo do piano, usando as madeiras para as percussões, e a parte de dentro da caixa do piano, usando as técnicas de piano preparadas, explica o pianista e compositor Cláudio Dauelsberg ao Cultura Etc.

O grupo usa ainda borracha, madeira e metal, que reproduzem sons de cavaquinhos, de contra-baixo, de percussões, sininhos e outros.

O PianOrquestra tocou ao lado de João Bosco, na Caravana 7. Eles viajaram por Vitória, Florianópolis, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

O Pixinguinha foi muito bom para o Pianorquestra, pois foi uma troca muito enriquecedora com o João Bosco e seus músicos, essa interação com as músicas dele foi muito boa, comemora Cláudio.

Saiba mais sobre o PianOrquestra no site www.pianorquestra.com.br.

A cantora Mônica Salmaso, dona de umas das vozes mais belas do país, resumiu bem o que seria o Projeto. Ela fez parte da Caravana 14, ao lado de Seu Luiz Paixão, e viajou por Rio Branco, Belém, Cuiabá e Brasília.

O projeto Pixinguinha é o projeto mais importante e o que mais abrange um número de pessoas e um número maior de lugar, pois ele viabiliza a viagem pelo Brasil de nós, artistas, pois o país é grande demais e para nós é complicado viajar para certos lugares se não tivermos apoio. Tem muitas regiões que não conseguimos chegar por ser distante demais, então o projeto Pixinguinha promove, em primeiro lugar, o encontro entre artistas, que se conhecem nesses espetáculos, e depois a possibilidade de esses artistas mostrarem o trabalho deles fora do lugar onde eles vivem, onde mais trabalham.

O Pixinguinha foi interrompido nos anos 90 e retomado pela Funarte em 2004, desde então com o patrocínio da Petrobras.

De acordo com Hermínio, o projeto se desestruturou no Governo Collor, quando o Ministério da Cultura foi eliminado. Mesmo com sua saída, ficou difícil retomar o projeto.

Na comemoração de seus 30 anos, Hermínio Bello de Carvalho foi convidado para ser o curador e sugeriu que os espetáculos fossem filmados para que façam parte da memória da música brasileira.

Abdiquei do direito de escolha dos artistas convidados e propus que, como já se fez na década de 80, gravássemos os espetáculos para colocá-los na grade de programação da Rede Brasil. Sabe-se que sempre lutei pela preservação da memória, e acho que ela não sobrevive sem registro e documentação, explica Hermínio.

Após o show de encerramento, o jornalista Sergio Cabral lançou uma biografia sobre Pixinguinha. Escrita há 30 anos, Pixinguinha – vida e obra, foi reeditada pela Fundação Nacional de Artes. O jornalista Jota Efegê também lançou coletâneas de crônicas, reeditadas pela Funarte.

As reedições da Funarte foram sugeridas por Hermínio Bello de Carvalho para completar as comemorações dos 30 anos do Projeto Pixinguinha. A biografia sobre Pixinguinha venceu o primeiro concurso de monografias promovido pela Funarte e impulsionou a carreira de pesquisador musical de Sérgio Cabral. O livro narra toda sua trajetória de sucesso.

De Jota Efegê, foram reeditadas quatro coletâneas, reunindo 525 crônicas: os dois volumes de Figuras e coisas da música popular brasileira, além de figuras e coisas do carnaval carioca e de Meninos, eu vi.

Saiba mais sobre o Projeto Pixinguinha pelo site http://www.funarte.gov.br/.

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