Moyseis Marques mostra suas influências em seu primeiro CD“Prefiro ouvir um verso de samba a escutar som de tiro”. É com este belo refrão de desabafo, escrito por Paulo Cesar Pinheiro, que Moyseis Marques apresenta seu primeiro CD, que leva seu nome e é repleto de gafieira, samba e até forró.
Criado na Zona Norte do Rio, no bairro de Vila da Penha, o cantor e compositor não vem de família de artistas muito menos recebeu incentivo para viver de música, mas foi à luta e hoje é um dos mais importantes nomes da nova geração do samba.
Lançado no final de 2007, o CD Moyseis Marques retrata um pouco sua trajetória. Apesar de, aos 30 anos, estar lançando o seu primeiro álbum, Moyséis tem pelo menos dez anos de estrada, com passagens por grupos como Casuarina, Tempero Carioca e Forró na Contramão.
Trata-se de um álbum gostoso de se ouvir, daqueles que você pode repetir sem enjoar. Moyseis resgata o velho e o novo da MPB, como “Meus 14 Anos”, de Paulinho da Viola, composições novas, como “Palpite de Gafieira”, de sua autoria ao lado de Daniel Scisinio e Rodolpho Dutra, além de partido alto de primeira, como “Mocotó do Tião - Fidelidade Partidária”, da dupla Wilson Moreira e Nei Lopes e com participação de Marquinhos China.
Fora as participações especialíssimas de Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda, Elton Medeiros, Zé da Velha, Silvério Pontes, que dão uma idéia da qualidade do álbum. Dá pra ver que não se trata de um trabalho de iniciante.
Muito solícito, Moyseis conversou com o
Culturaetc. sobre seu início de carreira, o repertório escolhido para este álbum e suas parcerias.
Culturaetc.: Conta como você se voltou para a música e decidiu viver dela.
Moyseis Marques: Eu tive minhas manifestações musicais desde cedo, como no colégio, onde tocava flauta doce. Tinha também o coral da igreja católica, que foi a primeira coisa que me chamou a atenção e foi onde comecei a cantar e tive o meu primeiro violão. Então eu sempre gostei de música. Eu costumava imitar os cantores de rádio e os discos do Roberto Carlos.
Culturaetc.: Mas quando você se voltou mais para o samba?
Moyseis Marques: Quando fiz 18 anos saí da casa dos meus pais e vim morar na Zona Sul. Aí eu ampliei meu círculo de amizade, tive um contato mais aprofundado com a música e comecei a receber incentivo das pessoas, dos amigos para investir nisso. Então lá para os 19, 20 anos eu resolvi que queria viver disso mesmo. E aí comecei a meter as caras.
Culturaetc.: Você lançou seu primeiro CD repleto de samba, partido alto, gafieira e até forró... Fala um pouco sobre este trabalho.
Moyseis Marques: Esse é o primeiro CD meu. Eu já tive passagem por algumas bandas e esse disco representa um pouco as várias formações musicais que eu tive. E é um disco voltado para o samba porque depois que eu passei a morar na Lapa esse estilo ficou muito presente na minha vida.
Culturaetc.: E você se apresenta também como compositor e mostra um pouco suas influências, não é isso?
Moyseis Marques: Sim. Eu me apresento como cantor e compositor e como intérprete de canções inéditas e quase inéditas, além de ter um pouquinho das minhas influências. Aí tem aquelas pitadinhas de forró, daquele repertório de Jackson do Pandeiro, que eu tanto gosto e que foi uma figura que eu me aprofundei na obra. Então é um disco de apresentação. Ele retrata um pouco esse meu caminho.
Culturaetc.: E como foi a escolha desse repertório?
Moyseis Marques: Bom, “Minha Verdade” é uma música que representou uma época da minha vida, quando eu conheci a obra da Dona Ivone Lara e comecei a cantar suas músicas. “Quatorze anos” é uma música que eu gostaria de ter feito, porque representa aquela coisa de proteção dos pais e é lá do começo da carreira do Paulinho (da Viola), então tem poucas gravações. “Nomes de Favela”, que é a música de trabalho, é um samba quase inédito. Então eu busquei esse repertório que me tocasse, que soasse verdadeiro.
Culturaetc.: O CD tem também participações especiais, como a de um dos maiores versadores do país, o Marquinhos China, tem Elton Medeiros, Zé da Velha, Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda... Fala um pouco sobre essas participações.
Moyseis Marques: São pessoas que tem a ver com a minha carreira. O Paulão é tipo um pai, sempre esteve presente, o Marquinhos China foi uma pessoa que eu aprendi muito no Tempero Carioca, o Elton Medeiros foi um presente que o Paulo Figueiredo (produtor) trouxe, o Zé da Velha e o Silvério Pontes são pessoas que eu trabalho, que sempre me convidam para fazer bailes, tem também o Zé Paulo Becker, o Nicolas Krassik... É uma forma de retribuir e passar um pouquinho da minha história com eles. Enfim, é um disco que tem muito suor, muita paciência, muita amizade, muito sentimento.
E põe sentimento nisso! Quem conhece Moyseis Marques sente que o cantor está contando sua história neste belo trabalho, ao mesmo tempo em que ele resgata o samba de raiz, a boa e velha gafieira, o forró, o partido alto, o samba-canção e até o candomblé, com mais toques de modernismo do que de saudosismo.
Quem quiser conferir o trabalho do cantor, ele faz duas rodas de samba semanais, uma no Carioca da Gema, às quartas, 21:30h, e outra no Trapiche Gamboa, às quintas, às 21h. E tem também um site com mais informações, que é o
http://www.moyseismarques.com.br/.