segunda-feira, 26 de maio de 2008

TEATRO

Quem assiste não consegue ficar parado

Há exatos 120 anos os negros foram libertos da escravidão. Trazidos para o Brasil em meados do século XVI, eles deixaram importantes marcas na nossa cultura. A capoeira, o candomblé e o samba, por exemplo, foram influenciados por esses grandes guerreiros. E um pouco dessa história é contado no espetáculo Intore, montado pelo grupo Kina Mutembua e Orquestra de Berimbaus, da ONG Ação Comunitária do Brasil/RJ (ACB/RJ).

Intore é um show de dança e música afro-brasileiras que faz a releitura de um trabalho tradicional realizado pelo Ballet Nacional de Ruanda. Ele é dividido em duas partes. Na primeira etapa é exibida uma dança típica de conotação sagrada que era realizada apenas pelos guerreiros africanos escolhidos por atributos físicos e morais. Pra quem não sabe, "Intore" significa "Os Escolhidos".

No segundo tempo um resgate da cultura afro disseminada e miscigenada no país é feito com muita cor e batuque. Logo ganham destaque ritmos regionais como samba de roda, maculelê e jongo, além, é claro, da capoeira, da MPB e músicas em dialeto Banto (africano), que marcam o trabalho do grupo.

Quem está na platéia não consegue se conter. O ritmo é envolvente e os dançarinos não param do início ao fim.

O grupo apreendeu a arte com alguns dos próprios artistas do Ballet Nacional de Ruanda durante intercâmbio proposto pela ONU, em 2006. Essa união fez com que o Kina fosse citado como referência de trabalho na área da economia criativa em recente relatório da ONU, lançado na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), no último dia 20 de abril.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Da Gama apresenta primeiro CD solo na próxima terça

Na próxima terça-feira, dia 20 de maio, Da Gama apresenta seu show Violas e Canções, que vai contar ainda com a participação de George Israel (Kid Abelha) e Biguli (Monobloco e Digital Dubs) na Sala Baden Powell.

Com um repertório que, além de resgatar clássicos do Cidade Negra, passeia por Djavan e resgata mestres da música brasileira, como Hyldon, o show intimista “Violas e Canções” também apresenta composições próprias de Da Gama com parceiros como Marcos Vale em “Ciranda” e Rick Magia em “Amor Proibido”. Há ainda a música de trabalho deste novo projeto, “Amor Matador”, um bolero-canção escrito por Alexandre Lima, do grupo gaúcho Manimao.

O show conta com a banda BaixÁfrica, parceira de longa data do artista, que está tão envolvido com o projeto que já pensa em lançar CD e DVD, mas ainda não revelou nenhum detalhe das gravações, além da participação de Arlindo Cruz em “Ciranda”.

Serviço:

Show Violas e Canções
Data: 20 de maio
Horário: 19h30
Local: Sala Baden Powell
Endereço: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 360 -Copacabana
Preços: R$10 (inteira); R$5 (meia).
Mais informações: 2548-0421
Classificação livre.

CINEMA: MARATONA DO AMOR

Há muito tempo não ria tanto assistindo a uma comédia

Há diretores que realmente não aprendem. Acham que, para arrancarem risos da platéia, precisam adotar aquelas chatas e mais do que cansativas piadas apelativas, sobre loiras e homossexuais, além de explorarem o máximo do máximo o sexo, como o horroroso American Pie.

Porém existem caras, como David Schwimmer, o divertido Ross Geller, do inesquecível Friends, que conseguem proporcionar boas gargalhadas com simples diálogos, coisa que um dos seriados mais assistidos dos últimos tempos fez com maestria.

“Maratona do Amor” (Run, fat boy, run) é um longa gostoso de se ver, que conta a história do atrapalhado Dennis (Simon Pegg), que largou a bela Libby (Thandie Newton) no altar, grávida, por medo de não dar conta da responsabilidade. Alguns anos mais tarde, Libby está namorando o playboy Whit (Hank Azaria) e Dennis, enciumado, resolve reconquistá-la.

Acontece que Whit é maratonista, o que chama a atenção de Libby, e Dennis, um sedentário completo, decide participar da mesma corrida que seu adversário para mostrar que se tornou um homem responsável e pronto para assumir sua família.

Uma história assim pode não chamar muita atenção, mas vale a pena conferir as cenas divertidas do inglês Simon Pegg, que também assina o roteiro. Aliás, as comédias inglesas são bem mais engraçadas do que as americanas e não é de se estranhar que “Maratona do Amor” seja mais uma prova disso.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Cinema

Diretor debate a Operação Condor em documentário

A ação conjunta de repressão a opositores das ditaduras instaladas na América do Sul nos anos 70, conhecida como Operação Condor, é tema do documentário do diretor Roberto Mader.

Condor foi o vencedor dos prêmios de melhor documentário no Festival do Rio e prêmio especial do júri em Gramado, no ano de 2007.

Mader entrevistou tanto pessoas ligadas ao regime militar, como o general Manoel Contreras, braço direito do general Augusto Pinochet, e Jarbas Passarinho (o ex-ministro em três governos militares), como algumas vítimas deste período, como a uruguaia Victoria Larraberti (ela e seu irmão, Anatole, quando pequeno, foram separados de seus pais, que foram seqüestrados e torturados), além de especialistas no assunto, como o escritor e jornalista John Dinges, do livro “Os Anos Condor”.

E o Culturaetc. foi conversar com Mader sobre este importante trabalho.

Culturaetc.: Roberto, de onde partiu a idéia de filmar Condor?

Roberto Mader: A idéia do filme surgiu em 98. Eu morei na Inglaterra e, neste ano, estava lá quando o general Augusto Pinochet foi preso e aí começou uma grande busca por arquivos militares da época da repressão, nos anos 70. Por isso a palavra “Condor”, que estava esquecida ou não era conhecida, começou a aparecer e eu percebi que essa operação iria dar um trabalho interessante.

Culturaetc.: E como foi feito o documentário?

Roberto Mader: O documentário foi dividido em três partes. Uma é a contextualização da América do Sul naquela época. Outra explica mais o que era a Operação Condor, apesar de não me prender tanto a isso, como data e fatos, e a terceira é a parte mais forte do documentário, pois fala das conseqüências humanas e psicológicas daquele período.

A operação durou até o período de redemocratização da região, na década seguinte. Liderada por militares da América Latina, a operaçãofoi batizada com o nome do Condor, ave típica dos Andes e símbolo da astúcia na caça às suas presas.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

“O homem que não tem raiz não tem nada”

Moyseis Marques mostra suas influências em seu primeiro CD

“Prefiro ouvir um verso de samba a escutar som de tiro”. É com este belo refrão de desabafo, escrito por Paulo Cesar Pinheiro, que Moyseis Marques apresenta seu primeiro CD, que leva seu nome e é repleto de gafieira, samba e até forró.

Criado na Zona Norte do Rio, no bairro de Vila da Penha, o cantor e compositor não vem de família de artistas muito menos recebeu incentivo para viver de música, mas foi à luta e hoje é um dos mais importantes nomes da nova geração do samba.

Lançado no final de 2007, o CD Moyseis Marques retrata um pouco sua trajetória. Apesar de, aos 30 anos, estar lançando o seu primeiro álbum, Moyséis tem pelo menos dez anos de estrada, com passagens por grupos como Casuarina, Tempero Carioca e Forró na Contramão.

Trata-se de um álbum gostoso de se ouvir, daqueles que você pode repetir sem enjoar. Moyseis resgata o velho e o novo da MPB, como “Meus 14 Anos”, de Paulinho da Viola, composições novas, como “Palpite de Gafieira”, de sua autoria ao lado de Daniel Scisinio e Rodolpho Dutra, além de partido alto de primeira, como “Mocotó do Tião - Fidelidade Partidária”, da dupla Wilson Moreira e Nei Lopes e com participação de Marquinhos China.

Fora as participações especialíssimas de Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda, Elton Medeiros, Zé da Velha, Silvério Pontes, que dão uma idéia da qualidade do álbum. Dá pra ver que não se trata de um trabalho de iniciante.

Muito solícito, Moyseis conversou com o Culturaetc. sobre seu início de carreira, o repertório escolhido para este álbum e suas parcerias.

Culturaetc.: Conta como você se voltou para a música e decidiu viver dela.

Moyseis Marques: Eu tive minhas manifestações musicais desde cedo, como no colégio, onde tocava flauta doce. Tinha também o coral da igreja católica, que foi a primeira coisa que me chamou a atenção e foi onde comecei a cantar e tive o meu primeiro violão. Então eu sempre gostei de música. Eu costumava imitar os cantores de rádio e os discos do Roberto Carlos.

Culturaetc.: Mas quando você se voltou mais para o samba?

Moyseis Marques: Quando fiz 18 anos saí da casa dos meus pais e vim morar na Zona Sul. Aí eu ampliei meu círculo de amizade, tive um contato mais aprofundado com a música e comecei a receber incentivo das pessoas, dos amigos para investir nisso. Então lá para os 19, 20 anos eu resolvi que queria viver disso mesmo. E aí comecei a meter as caras.

Culturaetc.: Você lançou seu primeiro CD repleto de samba, partido alto, gafieira e até forró... Fala um pouco sobre este trabalho.

Moyseis Marques: Esse é o primeiro CD meu. Eu já tive passagem por algumas bandas e esse disco representa um pouco as várias formações musicais que eu tive. E é um disco voltado para o samba porque depois que eu passei a morar na Lapa esse estilo ficou muito presente na minha vida.

Culturaetc.: E você se apresenta também como compositor e mostra um pouco suas influências, não é isso?

Moyseis Marques: Sim. Eu me apresento como cantor e compositor e como intérprete de canções inéditas e quase inéditas, além de ter um pouquinho das minhas influências. Aí tem aquelas pitadinhas de forró, daquele repertório de Jackson do Pandeiro, que eu tanto gosto e que foi uma figura que eu me aprofundei na obra. Então é um disco de apresentação. Ele retrata um pouco esse meu caminho.

Culturaetc.: E como foi a escolha desse repertório?

Moyseis Marques: Bom, “Minha Verdade” é uma música que representou uma época da minha vida, quando eu conheci a obra da Dona Ivone Lara e comecei a cantar suas músicas. “Quatorze anos” é uma música que eu gostaria de ter feito, porque representa aquela coisa de proteção dos pais e é lá do começo da carreira do Paulinho (da Viola), então tem poucas gravações. “Nomes de Favela”, que é a música de trabalho, é um samba quase inédito. Então eu busquei esse repertório que me tocasse, que soasse verdadeiro.

Culturaetc.: O CD tem também participações especiais, como a de um dos maiores versadores do país, o Marquinhos China, tem Elton Medeiros, Zé da Velha, Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda... Fala um pouco sobre essas participações.

Moyseis Marques: São pessoas que tem a ver com a minha carreira. O Paulão é tipo um pai, sempre esteve presente, o Marquinhos China foi uma pessoa que eu aprendi muito no Tempero Carioca, o Elton Medeiros foi um presente que o Paulo Figueiredo (produtor) trouxe, o Zé da Velha e o Silvério Pontes são pessoas que eu trabalho, que sempre me convidam para fazer bailes, tem também o Zé Paulo Becker, o Nicolas Krassik... É uma forma de retribuir e passar um pouquinho da minha história com eles. Enfim, é um disco que tem muito suor, muita paciência, muita amizade, muito sentimento.

E põe sentimento nisso! Quem conhece Moyseis Marques sente que o cantor está contando sua história neste belo trabalho, ao mesmo tempo em que ele resgata o samba de raiz, a boa e velha gafieira, o forró, o partido alto, o samba-canção e até o candomblé, com mais toques de modernismo do que de saudosismo.

Quem quiser conferir o trabalho do cantor, ele faz duas rodas de samba semanais, uma no Carioca da Gema, às quartas, 21:30h, e outra no Trapiche Gamboa, às quintas, às 21h. E tem também um site com mais informações, que é o http://www.moyseismarques.com.br/.


domingo, 11 de maio de 2008

Crítica: Bella

Estava faltando um filme como este nos cinemas

Em muitas culturas acredita-se que, ao morrermos, nossa alma se desgarra de nós em forma de borboleta para um novo renascimento. Em grego antigo, Borboleta diz-se Psyché, ou seja, alma. Por sair do casulo ao nascer, a borboleta é símbolo da imortalidade e seu surgimento anuncia a morte e a vida.

Baseado nesse simbolismo o diretor Alejandro Gomez Monteverde nos apresenta o maravilhoso “Bella”, seu primeiro longa-metragem, que fala sobre o amor pela família, pelas coisas mais simples da vida, da verdadeira amizade, além de discutir a vida e a morte.
"Bella" é uma produção independente, rodada em Nova Iorque e tem no seu elenco atores americanos e mexicanos.

Nina (Tammy Blanchard) é demitida do restaurante mexicano de Manny (Manny Perez) e, para completar, está grávida. José (Eduardo Verástegui) é um ex-jogador de futebol de sucesso e chef principal do estabelecimento, que pertence a seu irmão. O moço sente compaixão pela garçonete e larga o trabalho para fazer companhia a ela naquele dia tão difícil.

Pelas ruas de Nova Iorque, Nina fala sobre a importância de se criar uma criança em um lar rodeado de amor, o que não aconteceria ao seu bebê, pois ela sequer ama o pai da criança.

Sempre ouvindo atentamente o que a moça diz, José tenta convencê-la a dar a volta por cima, vencer seus medos e dar valor à vida, não só a dela como a que está carregando, mas Nina já está decidida a interromper a gravidez.

José decide então levá-la para a casa de seus pais e conta que, no auge da carreira de jogador, atropela uma criança, tirando sua vida. Ele fica quatro anos na prisão e, ao sair, nunca mais entrou em campo. E foi seu irmão adotado, Manny, que lhe deu a chance de trabalhar em seu restaurante.

Só aí que Nina, que perdera o pai aos 12 anos e conviveu com uma mãe que desistira de viver, entendeu como as pessoas podem superar as adversidades quando se tem carinho e toma uma decisão surpreendente.

“Bella” não tem atores famosos nem é repleto de efeitos especiais, mas é um dos filmes mais bonitos e emocionantes dos últimos tempos, pois conquista justamente com a sua simplicidade.

A impressão que dá é que Monteverde, que também assina o roteiro, pede para Blanchard e Verástegui saírem pelas ruas conversando sobre a vida, de tão espontâneos que são os diálogos. Fora a bela fotografia de Andrew Cadelago e o sutil simbolismo que Joseph Gutowski e Fernando Villena, que assinam a montagem, dão ao renascimento.

Vencedor do Prêmio do Público do Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, Bella está com estréia prevista para 16 de maio.
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Ficha técnica
Título original: Bella
México / EUA, 2006,
91 minutos
Gênero: Drama
Direção: Alejandro Gomez Monteverde
Roteiro: Alejandro Gomez Monteverde, Patrick Million e Leo Severino
Direção de fotografia: Andrew Cadelago
Montagem: Joseph Gutowski e Fernando Villena
Música original: Stephan Altman
Distribuição nacional: California Filmes
Elenco
Eduardo Verástegui - José
Tammy Blanchard - Nina
Manny Perez - Manny
Ali Landry - Celia
Angélica Aragón - Mother
Jaime Tirelli - Father
Ramon Rodriguez - Eduardo
Destaques
Melhor filme pelo júri popular no Festival de Toronto 2006 - Prêmio Crystal Heart no Festival de Heartland 2007 - Prêmio de Atuação Inspiradora no MovieGuide 2008

terça-feira, 6 de maio de 2008

EXPOSIÇÃO


Artista plástico transforma lixo em arte
Não jogue fora todo o seu lixo – doe-o para Sergio Cezar, artista plástico que transforma sucata em esculturas, retratando poeticamente a vida em comunidades pobres, fazendo a ponte entre a favela e a arte.

Para quem não o conhece, sua obra mais famosa pode ser vista todos os dias, na abertura da novela “Duas Caras”, da Rede Globo e, agora, esse e outros trabalhos encontram-se na exposição “Reciclando o Olhar”, no Centro do Rio.

Ainda muito jovem, Sergio percebeu a distância entre as manifestações artísticas e as pessoas de classe baixa e teve a sensibilidade de enxergar que o dia-a-dia dessa gente pode ser contado em uma simples e bela maquete. Como? Juntando entulhos e construindo, com uma riqueza de detalhes, casas, vilarejos, cidades, assim como cresce uma favela.

Embora não haja personagens, as esculturas são tão vivas e coloridas que pode-se escutar crianças brincando, vizinhos conversando, lavadeiras cantando. É a vida simples retratada com uma originalidade ímpar, do jeitinho brasileiro.

Negro de família humilde, o filho de porteiro e empregada doméstica trabalha, há 25 anos, com meio ambiente e inclusão social. Em 1998, criou a ONG Recuperar-te, onde dá cursos de artesanato para crianças e jovens de comunidades.

As obras do arquiteto do papelão, como é conhecido, estão no Centro Cultural da Justiça Federal, na exposição “Reciclando o Olhar”, que ficará no espaço de 6 de maio a 8 de junho. O horário de visitação é de terça à sábado, das 12h às 19h, com entrada franca.

Lembrando que o CCJF fica na Av. Rio Branco, 241, Cinelândia.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

OPINIÃO

Cultura e política de mãos dadas

O coleguinha Carlos Calado informou em sua coluna, hoje, no Ilustrada, que Stevie Wonder aproveitou sua participação em um grande festival para apoiar o candidato Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.

O show era o 39.º Festival de Jazz de Nova Orleans e 70 mil pessoas, embaixo de chuva forte, ouviram o cantor dizer estar entusiasmado com o pré-candidato do partido Democrata.

Após a declaração, Wonder ainda pediu que se fizesse um minuto de silêncio em memória às vítimas do furacão Katrina, que destruiu parte da cidade, em 2005, deixando um rastro de mortes e desabrigados.

É comum um ato como esses lá fora. Artistas costumam aproveitar seus shows e participações em programas de entrevistas para fazer campanha, falar sobre alguma tragédia, tentar conscientizar seu público. É a cultura andando junto com a política. Afinal, o que é a política senão a arte de discutir idéias? E o que é a arte senão tentar tornar as pessoas mais informadas e politizadas?

O que lamento é uma atitude como essa ser rara em nosso país. Os “artistas da ditadura” se calaram – ou se cansaram – e a nova geração mal se lembra em quem votou nas últimas eleições. Não aproveitam um importante instrumento de mobilização - o microfone - para discutir idéias.

Parabéns a Stevie Wonder, um dos mais respeitados cantores e compositores do mundo, ativista de causas humanitárias e deficiente visual.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O poeta não morreu

Paulo Ricardo, Caetano Veloso e Ney Matogrosso
Cazuza é homenageado no dia do trabalhador

No ano em que completaria 50 anos, Cazuza é homenageado por artistas de sua geração e da nova em um show promovido nas areias de Copacabana, na noite fria de 1 de maio, dia do trabalhador.

Homem de muitas palavras e poucos modos, Agenor de Miranda Araújo Neto ainda influencia muitas bandas e suas letras são cantadas por quem ainda nem era nascido quando o rebelde vocalista do Barão Vermelho nos deixou, em 7 de julho de 1990.

Considerado um dos mais importantes poetas da música brasileira, o homem que queria uma ideologia para viver foi homenageado por grandes amigos e parceiros, como Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Rodrigo Santos e outros.

Antes de Ney Matogrosso subir no palco para cantar “O tempo não pára”, “Por que a gente é assim” e “Pro dia nascer feliz”, um grande telão exibia imagens da Sociedade Viva Cazuza, fundada por seus pais após sua morte para dar assistência a crianças carentes portadoras do vírus da Aids.

Um dos grandes poetas da MPB

Primeiro cantor a regravar suas letras, Ney foi aclamado por um público de aproximadamente 60 mil pessoas.

Após sua bela interpretação, novamente as atenções se voltaram para o telão, que exibiu cenas do filme “Cazuza”, lançado em 2004. Também foi exibido “O poeta está vivo”, interpretado por Barão Vermelho, no DVD “MTV Ao Vivo”, lançado em 2005.

Leoni subiu ao palco em seguida para tocar “Minha louca vida” e “Mal nenhum”. Após o show, ele falou um pouco sobre Cazuza e sua canção predileta.

“Cazuza foi um dos grandes poetas da Música Popular Brasileira e deixou uma obra muito importante. Ele era meu amigo, meu parceiro e estou muito emocionado de estar aqui”.

Grande influência


O cantor acredita que Cazuza ainda hoje influencia muitos letristas e poetas porque ele tinha uma abordagem da vida muito sincera.

“Ele não tinha medo de colocar a cara a tapa, tanto que depois dele perdeu-se isso. Os artistas procuraram ficar politicamente corretos, ninguém podia falar mal de ninguém, tinha que falar o que a mídia esperava. A gente perdeu essa capacidade de ser livre pra falar o que a gente quer e ele inspira muito isso, na atitude. E ele faz muita falta, só não faz mais falta porque ele deixou toda essa obra que a gente pode revisitar na hora que der saudade”, completa.

Os dois são donos de belas canções, como “Garotos” e “Exagerado”, mas Leoni aponta a sua preferida.

“Tem uma música que me emociona muito que é “Ideologia”, porque as grandes idéias acabaram, as ideologias acabaram. Vivemos num mundo individualista, onde você tem que procurar se dar bem, ganhar dinheiro, se adaptar às idéias e o Cazuza tinha essa coisa de querer uma ideologia, de querer acreditar em alguma coisa, que o homem pode ser solidário, libertário e essa música é uma síntese desse pensamento”.

Exagerado

Quem também estava muito emocionado era Paulo Ricardo, ex-líder da banda RPM. O cantor foi um dos últimos a subir no palco e interpretou “Ponto Fraco”, “Ideologia” e “Exagerado”, ao lado de Leoni e Preta Gil.

“Se eu tivesse que definir o Cazuza em uma palavra ela seria “exagerado”. Ele sabia fazer com que as pessoas se identificassem com o que ele estava falando porque ele era muito verdadeiro. À medida que ele se abria ele criava coragem nas outras pessoas para elas fazerem o mesmo”, comenta.

Paulo Ricardo garante que Cazuza era fiel ao que dizia. Suas atitudes convinham com suas canções, que retratavam seu modo de agir, seu pensar.

“Cazuza foi um avatar, um pioneiro da nossa geração e era um cara que realmente fazia tudo aquilo que ele cantava. Ele virava a noite na loucura com muita intensidade e, mesmo na fase terminal, continuava com a mesma postura, sem nenhum traço de arrependimento ou falso moralismo”.

Sobre um possível Cazuza de hoje, Paulo Ricardo garante que ninguém relevante, nem na música, nem na literatura consiga transmitir o que ele foi.

“Eu não vejo aquela língua afiada dele em ninguém”, afirma.

O lado MPB

E se Cazuza estivesse vivo? Será que ele continuaria rock’n’roll? A verdade é que, em suas últimas canções, Cazuza estava muito mais inclinado para a Bossa Nova e a MPB do que para o rock. Já em carreira solo – o cantor se separou do Barão em 1985 – seu som estava mais limpo e apresentava traços de um Cazuza mais light, como em “Codinome Beija-flor” e “Faz parte do meu show”.

“Eu sentia que o Cazuza estava se voltando cada vez mais para a MPB. Eu acho que ele não ia se identificar muito com o rock de hoje”, comenta Paulo Ricardo.

O fato é que Cazuza ultrapassou gerações e a prova disso foi o encontro de diferentes idades neste show que homenageou o trabalhador das palavras.

Participaram da festa Ney Matogrosso, Leoni, Sandra de Sá, Preta Gil, Zélia Duncan, Arnaldo Brandão, George Israel, Angela Ro Ro, Rodrigo Santos, Caetano Veloso, Gabriel, O Pensador, Liah e Gabriel Tomás.

Samba é homenageado com grande estilo

Batuque na Cozinha
Bandas contam um século de samba na Lapa

Um século de samba é contado no show “Samba em quatro tempos”, realizado pelas bandas Casuarina, Anjos da Lua, Batuque na Cozinha e Galocantô, no último dia 30, na Fundição Progresso, Lapa – RJ.

Os grupos deram uma aula desde o primeiro samba registrado, “Pelo Telefone”, de Donga, datado de 1917, até os mais atuais, de Zeca Pagodinho e Beth Carvalho.

O Casuarina abriu a noite com sambas de Ary Barroso, Donga e Assis Valente. O grupo empolgou ao tocar “Palpite Infeliz”, de Noel Rosa, “Minha Filosofia”, de Aluisio Machado e sucesso de seu primeiro álbum, e “Sem Compromisso”, de Chico Buarque. Ao passar a bola para a segunda banda da noite, o Casuarina fechou com estilo, tocando “Canto de Ossanha”, de Vinicius de Moraes.

O vocalista Gabriel Azevedo explicou que o projeto, nascido há três anos, surgiu da necessidade de juntar quatro bandas muito amigas e abarcar todo esse repertório.

“Apesar de serem quatro bandas de samba, a gente tem o perfil diferente. O Anjos da Lua investe bastante no trabalho de pesquisa e o Casuarina também caminha para esse lado de resgate. Já os outros se dedicam a sambas da década de 70 pra cá”, explica Gabriel.

Numa apresentação menos empolgante, o Anjos da Lua interpretou sucessos de Zeca Pagodinho, como “Beija-me”, Orlando Silva, com “Chora Cavaquinho”, João Nogueira, com “Mineira”, e Zé Keti, com “Diz que fui por aí”.

Terceira a se apresentar na noite, a banda Batuque na Cozinha não deixou ninguém ficar parado ao tocar sucessos como “Na linha do Mar”, de Paulinho da Viola, “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque e “Espelho”, de João Nogueira. Este, inclusive, foi talvez o ponto mais alto do show.

O percussionista André Corrêa explicou que, a princípio, sua banda se uniu ao Galocantô e aí eles convidaram o Casuarina e o Anjos da Lua para fazerem um século de samba, desde o primeiro registrado até os dias de hoje.

A banda fechou com chave de ouro cantando “Acreditar”, de Ivone Lara.

Último na noite a subir no palco, o Galocantô interpretou sambas mais recentes, quando este estilo já ia para o lado do pagode.

O vocalista Rodrigo Carvalho comentou que os grupos já pensaram em gravar um CD, desde quando começaram esse projeto, mas conta que é muito difícil reunir os quatro em torno de um trabalho.

“Cada um está com seu CD e fica difícil conciliar a agenda”, comenta.

O Galocantô, inclusive, lançou um show inspirado no livro “No princípio era a roda”, do jornalista Roberto Moura. Rodrigo explica que a obra é o víeis do “Samba em quatro tempos”.

“Ele era um grande conhecedor de samba, estava em todas as rodas e merece essa homenagem”, comenta Rodrigo.

O Samba em Quatro Tempos começou em 2006, no Circo Voador, também na Lapa. Os grupos procuravam conciliar os shows nas férias escolares, sempre às terças. Depois o projeto migrou para a Fundição e cada banda lançou seu CD, o que dificultou sua continuidade. Com sua volta, as bandas pretendem agora fazer essa bela roda de samba ao menos uma vez por ano.