domingo, 23 de agosto de 2009

O despertar da primavera

Em meio a tantos espetáculos-shows que pecam com textos fracos e óbvios, eis que surge o talvez melhor musical de todos os tempos: "O despertar da primavera", da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, em Copacabana.

Escrita em 1891 pelo dramaturgo alemão Frank Wedekind, a peça trata das agruras que um grupo de adolescentes vive, da descoberta da sexualidade, do incesto, suicídio e de toda a opressão que há dentro de casa, na escola e na igreja.

No palco, 21 atores - alguns ainda entrando na adolescência - cantam e dançam como se fizessem aquilo a vida inteira. Eles se entregam de uma tal forma como se eles estivessem contando a própria história.

O que choca nessa peça não são as cenas mais picantes, em que um jovem se masturba, os protagonistas transam na floresta e dois homens se beijam, mas a maturidade e a dedicação de todo um maravilhoso elenco.

E tudo contribui para que esse musical de 120 minutos não caia nem um pouco de ritmo ou fique cansativo.

O cenário de Rogério Falcão, com tijolos para todos os lados, encurrala os atores, mostrando exatamente como um adolescente se sente. Para momentos de libertação, a floresta é o ambiente ideal. Para o desespero, o cemitério é o mais propício.

A dupla Marcelo Castro e Alonso Barros, diretor musical e coreógrafo, respectivamente, não poderia ter feito melhor. O recado deles foi bem direto: é assim que se faz um musical!

E é assim que se faz um musical mesmo! Isso que é teatro. É não se preocupar com elenco famoso, com extravagâncias, com cenas chocantes só para chamar a atenção.

Há muito tempo não via um espetáculo tão inteligente.

Parabéns à extraordinária dupla Charles Möeller e Claudio Botelhoe e à toda equipe que me fez chorar a cada número.

O DESPERTAR DA PRIMAVERA

Música de Ducan Sheik
Texto e Letras de Steven Sater
Baseado na obra de Frank Wedekind
DIREÇÃO: Charles Möeller
VERSÃO BRASILEIRA / SUPERVISÃO MUSICAL: Claudio Botelho
DIREÇÃO MUSICAL: Marcelo Castro
COREOGRAFIA: Alonso Barros
CENÁRIO: Rogério Falcão
FIGURINOS: Marcelo Pies
VISAGISMO: Beto Carramanhos
DESIGN DE LUZ: Paulo César Medeiros
DESIGN DE SOM: Marcelo Claret
COORDENAÇÃO ARTÍSTICA: Tina Salles

ELENCO:
Malu Rodrigues, Letícia Colin, Pierre Baitelli, Rodrigo Pandolfo, Thiago Amaral

APRESENTANDO
Débora Olivieri e Carlos Gregório

COM:
Alice Motta, André Loddi, Bruno Sigrist, Danilo Timm, Davi Guilhermme, Eline Porto, Estrela Blanco, Felipe de Carolis, Julia Bernat, Laura Lobo, Lua Blanco, Mariah Viamonte, Pedro Sol, Thiago Marinho

PRODUTOR EXECUTIVO: Luiz Calainho
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Aniela Jordan, Beatriz Secchin Braga, Monica Athayde Lopes
UM ESPETÁCULO DE: Charles Möeller & Claudio Botelho

SERVIÇO
‘O Despertar da Primavera’
Local: Teatro Villa-Lobos
Endereço: Av. Princesa Isabel, 440. Copacabana
Telefone: (21) 2334-7153
Temporada de 21 de agosto a 15 de novembro
Quintas e sextas, às 21h. Sábados, às 21h30. Domingos, às 18h.
Ingressos a R$ 60 (quintas e sextas); R$ 70 (domingos) e R$ 80 (sábados).
Vendas pela internet em www.ingresso.com.br
A bilheteria do teatro funciona de quarta a domingo, de 15h às 19h.
Classificação etária: 14 anos
Lotação: 463 lugares
Duração do espetáculo: 120 minutos (mais intervalo)


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Prêmio Multishow: uma vergonha para a MPB

Até que ponto é válido ouvir a opinião pública? Deparei-me com essa pergunta ao assistir o Prêmio Multishow, ocorrido na última terça, no Rio de Janeiro.

Trata-se de um evento em que o público é quem manda. Internautas espalhados por todo o país é que escolhem os indicados às inúmeras categorias da premiação. Só assim bandas inexpressivas e sem qualquer qualidade sonora, como NXZero, conseguem sonhar com um troféu. E foi exatamente isso que aconteceu.

Um dos primeiros prêmios a serem entregues foi o de Revelação. Os sortudos foram os integrantes da Banda Cine, uma mistura de Hanson com Menudos que tem, no repertório, letras como "Who o ow / Eu te completo baby / Who o ow / Vem que é certo baby". Os fãs ovacionavam os adolescentes como se o Papa estivesse na frente deles. Cena, no mínimo, banal.

E o que dizer do Fresno ganhar como melhor banda? O grupo desbancou NXZero, Jota Quest, Skank e EVA. Essa última eu nem sabia que ainda existia.

Acho interessante o canal Multishow ouvir seus telespectadores, promover um evento cujo grito de guerra era "Misture-se", mas colocar Lenine e seu Jorge para disputarem o prêmio de melhor cantor é inaceitável. E ver o primeiro desbancando o segundo é inadmissível!

E o que dizer de Ivete Sangalo fazendo de tudo para mostrar a barriga de sete meses, apagando totalmente Zeca Pagodinho?

Foi tanta cena bizarra que tirou todo o brilho da homenagem feita à Rita Lee e à Raul Seixas. Uma pena!

Por essas e outras prefiro ficar longe do Vox Populi.